“Não é para comemorar.” Essa foi a manifestação do presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), Marcos Antônio Zordan, ante o anúncio de que o Brasil tornou-se, em 2012, o segundo exportador global de milho, passando a Argentina e ficando apenas atrás dos Estados Unidos.
Zordan mostra que as exportações maciças encareceram o preço interno do milho e, por extensão, aumentaram os custos da nutrição animal e da produção de carnes – especialmente de aves e suínos. Observa que na Argentina, além da queda de produção, houve preocupação governamental em reter parte do grão no país para não prejudicar a geração de proteína animal, cuidado que o Brasil não teve.
O dirigente ressalta que a elevação acentuada dos custos encareceu em até 30% os preços finais ao consumidor. Uma das consequências inevitáveis foi o aumento da inflação. “Se, por um lado, alguns lucraram com a inflação, por outro, toda a sociedade sofre com o processo inflacionário”,
A procura mundial pelo grão tornou o Brasil o segundo maior exportador de milho do mundo, arrecadando bilhões em divisas externas. O Brasil colheu uma produção recorde em 2012 e exportou a marca histórica de quase 20 milhões de toneladas de milho, o dobro das exportações de 2011. A produção pecuária interna, porém, sofre pelo elevado custo desse insumo. O milho existe no mercado, mas seu preço continua elevado para as atividades pecuárias.
“Não queremos dizer, em absoluto, que os produtores de grãos não tenham que aproveitar o bom momento, porém, tudo o que é descompassado acaba a médio ou longo prazo tendo resultados desastrosos. Basta lembrar que várias agroindústrias faliram e produtores independentes quebraram”.
O presidente da Ocesc lamenta que as promessas de transferência dos estoques do centro-oeste brasileiro para o sul não foram cumpridas. Uma sugestão prática para amenizar a crise foi dada pelas agroindústrias na forma de um subsídio de 5 reais por saca de milho transportada do centro-oeste para SC a ser deduzida dos impostos federais foi ignorada pelo Governo. Essa operação custaria apenas 300 milhões de reais ao ano que seriam deduzidos dos créditos de PIS e COFINS que as indústrias da carne têm junto à Receita Federal.
Santa Catarina tem mais de 17.000 suinocultores e avicultores integrados às agroindústrias produzindo num setor que emprega diretamente 105 mil pessoas e, indiretamente, mais de 220 mil trabalhadores. O setor no País se desenvolveu copiando o modelo de parceria produtor/indústria implantado em Santa Catarina a partir do início dos anos 70.
INÉDITO
O cenário gerado pela crise dos grãos é inédito em face do alinhamento de uma série de fatores negativos – estiagem nos EUA que perderam 110 milhões de toneladas de milho, seca no Brasil, demanda em alta no mercado mundial etc. “Esses fatores justificariam uma intervenção oficial no mais claro interesse da sociedade”.
Santa Catarina cultiva 540.000 hectares e produz cerca de 4.5 milhões de toneladas, mas, consome 6.5 milhões, importando do exterior ou do Mato Grosso e Paraná o volume necessário para suprir o déficit de 2 milhões de toneladas. Em anos de estiagens rigorosas, o déficit chega a 3 milhões de toneladas. Isso também se deve ao fato de parte da safra catarinense não ficar no Estado por falta de armazenagem, situação que prejudica os criadores e as indústrias.