A exportação de soja e milho brasileiros está cada vez mais dependente da China. Em 2023, a China adquiriu 75% (75,6 milhões de toneladas) das pouco mais de 101 milhões de toneladas de soja exportadas pelo Brasil, tornando-se também o principal destino do milho brasileiro no mercado internacional. Essa realidade, ao menos para o próximo período, preocupa os especialistas.
Sérgio Mendes, diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), destaca que, embora seja possível diversificar os parceiros comerciais na exportação de soja, é impossível evitar a exportação para a China. Ele ressalta que para ser um grande player na produção de soja, um país precisa ter a capacidade de abastecer a China, algo que o Brasil tem demonstrado.
Apesar das discussões sobre a necessidade de diversificação de destinos, Mendes e Jean Carlo Budziak, da Anec, concordam que a dependência chinesa pela soja brasileira não parece diminuir. Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSetor Consultores, considera essa dependência uma situação difícil e duradoura, apontando para o comprometimento da base produtiva brasileira com as exportações para a China.
Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que, em 2023, a China adquiriu 60,6% da soja exportada globalmente. Lucílio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), destaca a necessidade de buscar alternativas de compradores para a soja, mas ressalta o desafio de encontrar importadores com relevância comparável à China.
Na perspectiva da Anec e do Cepea, a demanda chinesa pela soja brasileira deve permanecer forte nos próximos anos, mesmo com investimentos da China em aumentar a produção local. No entanto, Fabio Silveira alerta que os produtores devem se preparar para um novo momento, pois a China está investindo para reduzir as importações do Brasil.
Quanto ao milho, em 2023, o Brasil se tornou o maior exportador para a China, adquirindo 31% das 55,6 milhões de toneladas exportadas, superando as expectativas. Especialistas destacam a necessidade de os exportadores brasileiros ampliarem o comércio com outros países da Ásia, como Índia e Bangladesh, bem como explorar destinos com grandes populações, como Rússia e países do Oriente Médio.