Por falta de alternativa, produção do Nordeste viaja 1.700 km até o porto de Santos. No trajeto, 60kg da carga de cada caminhão é perdida
Acaba de ser anunciado que a safra 2009/10 vai bater novo recorde com mais de 143 milhões de toneladas, volume 6,5% superior à colheita anterior. Apenas a produção de soja será 19% maior. Infelizmente, boa parte dessa riqueza vai se perder.
O Brasil esbarra na excelência quando se trata de plantar e colher, mas convive com a mediocridade no quesito de transporte dos produtos. Todo o esforço e a competência dos agricultores na produção são prejudicados no transporte por conta das condições precárias da infraestrutura.
Grandes produtores, o centro-oeste e o Nordeste sofrem com a falta de alternativas próximas de escoamento. Grande parte da produção precisa ser embarcada no porto de Santos ou de Paranaguá – PR, uma viagem de cerca de 2 mil Km. Isso faz com que o custo de produção em Mato Grosso, por exemplo, U$360/ ha enquanto no Paraná é de U$ 135/ha. A diferença se explica exclusivamente pelo custo do transporte.
Hoje se sabe também que durante essa viagem sem fim, cerca de 60kg da carga de cada caminhão se perde pelo caminho. Isso porque mais de 70% das rodovias utilizadas para o escoamento da carga são de péssima qualidade.
Contribui para o problema o estado de conservação da frota utilizada. Apenas o excedente da safra deste ano vai exigir mais 160 mil caminhões rodando pelas estradas. Em sua grande maioria eles têm mais de 15 anos de uso e estão obsoletos e mal conservados. Isso prejudica o tempo de viagem, a segurança e aumenta o desperdício. Por outro lado, é temerário investir em novos equipamentos que ficarão ociosos fora do período de safra. A solução mais inteligente para essa questão seria utilizar as ferrovias para o escoamento. No entanto, 80% da malha ferroviária são ocupadas pelos setores siderúrgico e de mineração.
Para evitar os desperdícios que vamos observar no escoamento dessa safra é preciso construir, investir. Principalmente na extensão da malha ferroviária e criação de novos portos e modernização dos já existentes. No papel, o PAC contempla muitos avanços nessa área, mas é necessário que seja executado. Até agora, muito pouco foi feito.
É necessário fixar datas e cronogramas e as avaliações devem ser feitas em curtos espaços de tempo para verificar o andamento das obras. E, para isso funcionar, é fundamental que a sociedade e a iniciativa privada pressionem o Governo. Afinal, se o poder público principal (mas não o único) responsável pela revitalização da infraestrutura, as empresas e os cidadãos são os grandes prejudicados por seu sucateamento.
*Antonio Wrobleski Filho é engenheiro com pós-graduação em Finanças, M.B.A. pela N.Y.U., consultor em logística e sócio da Awro Participações e Logística. Foi presidente da Ryder Logística e da Trafti Logística.