Numa tentativa desesperada de sobreviver à política restritiva do governo Cristina Kirchner, produtores argentinos estão contrabandeando soja para o Brasil e o Paraguai. Ali, o grão é declarado como produzido localmente, retornando à Argentina com valor do Dólar paralelo, e então exportado sem as chamadas “retenções” impostas pela Casa Rosada.
A rota já é de conhecimento da Administração Federal de Receita Pública da Argentina, revela reportagem do correspondente Luis Vieira para o Portal Agriculture.com. Atualmente, US$ 1 compra AR$ 7,92 no câmbio oficial, enquanto no mercado negro essa cotação chega a AR$ 10,35.
Há muito tempo reconhecida internacionalmente como um país muito competitivo para produzir soja, a Argentina perdeu terreno por conta da política adotada em 2003 pelo governo de Nestor Kirchner. À época, foram aplicados impostos de 35% sobre as exportações de soja (as chamadas “retenções”), gerando grandes perdas para os produtores nas vendas externas.
Outro fator que lentamente diminuiu os ganhos dos sojicultores argentinos foi a desvalorização do Peso em relação ao dólar. E a atualização atrasada da moeda na compra com câmbio oficial provocou ganhos menores nas exportações.
A receita argentina fez alguns confiscos com pouco volume mensalmente ao longo do ano passado e no início desse ano. No entanto, acredita-se que o contrabando é muito maior, segundo disseram alguns produtores (de forma anônima) ao Agriculture.com.
Especialmente nas províncias próximas ao Paraguai, como Formosa, Santiago del Estero e Misiones, a rota de fuga é mais fácil devido à falta de fiscais na região. O site Misiones Online afirma que praticamente toda a oleaginosa produzida na província vizinha ao Brasil é contrabandeada pelas fronteiras.
Alguns agricultores até especulam que a produção paraguaia de soja, na última temporada anunciada em 9,08 milhões de toneladas, é falsa, sendo a maior parte originária da Argentina. No entanto, dado o histórico de tolerância ao contrabando naquele país, é improvável que a informação sobre a produção “fantasma” do Paraguai seja admitida publicamente.