Da Redação 30/05/2005 – O comportamento das cotações internacionais dos grãos no último ano, sobretudo da soja, derrubou os preços das terras destinadas a essas culturas no Brasil e travou negócios principalmente na região Sul, que também amargou forte queda da produção em virtude da prolongada estiagem que marcou esta safra 2004/05. Em alta e com demanda aquecida no exterior, açúcar e álcool transformam em exceção as terras para cana, procuradas e valorizadas em novas áreas de plantio no Centro-Oeste e no Triângulo Mineiro ou em paragens tradicionais como Ribeirão Preto, no interior paulista.
“Em um momento de queda das cotações agrícolas, com produtores renegociando dívidas, os mais descapitalizados não fazem um bom negócio quando se desfazem da terra”, constata José Vicente Ferraz, diretor da consultoria FNP. Segundo ele, a queda dos grãos tira poder de barganha do agricultor, e, apesar da estiagem, é este também o fator preponderante para a queda dos preços da terra na região Sul. Análise realizada pela FNP mostra que os principais Estados produtores de grãos – localizados no Centro-Oeste e no Sul – registraram as maiores quedas nas cotações da terra nos últimos 12 meses (ver tabela nesta página). Mas, considerando-se os últimos 36 meses, quando essas regiões registraram crescimento de área plantada por conta da valorização que precedeu a queda dos preços internacionais dos grãos, as terras encareceram quase que na mesma proporção dos grãos.
Para a cana-de-açúcar, já com quatro anos de preços remuneradores e polpudos investimentos em expansão de usinas programados até 2010, as terras só fazem subir. Em Ribeirão Preto, maior pólo açucareiro do país, o hectare para cana foi cotado em R$ 13,8 mil entre março e abril deste ano, segundo o levantamento da FNP, 109% mais que há três anos. Na também paulista região de Araçatuba, tradicionalmente voltada à pecuária e hoje apontada como nova fronteira para cana no Estado, o hectare sai por R$ 10,5 mil, um salto de 93% nos últimos 36 meses. Já nos arredores da mineira Uberaba, considerada uma nova fronteira para cana, a FNP aponta R$ 6,2 mil por hectare, uma ainda expressiva valorização de 55% no período.
Com a boa fase dos mercados de açúcar e álcool, “a cana avançou muito sobre as áreas de pastagens”, segundo Antonio de Pádua Rodrigues, diretor da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). Ele concorda que a cultura tem grande potencial para avançar no Centro-Oeste e no Triângulo Mineiro e já vê boa presença de canaviais no oeste e no noroeste de São Paulo. Pádua afirma, contudo, que as usinas de açúcar e álcool não têm tradição de comprar terras. “Os empresários preferem arrendar as terras de pecuaristas ou incentivam os fornecedores de cana a migrar para as potenciais fronteiras produtoras”, observa.
Com a expansão da cultura, em Araçatuba as usinas criaram uma bolsa de arrendamento de terras da região, administrada pela Udop (Usinas e Destilarias do Oeste Paulista). Segundo Fernando Perri, diretor da Udop, a bolsa foi criada recentemente a partir da crescente demanda e da falta de informações disponíveis aos produtores interessados em arrendar. “Tanto a construção de usinas quanto a reativação de uma destilaria abrem novas oportunidades para novos fornecedores”. Segundo Perri, a bolsa tem ajudado a orientar usinas interessadas em arrendamentos.
Luiz Guilherme Zancaner, presidente da Udop, ressalva que, com a maior procura, Araçatuba já não está mais entre as alternativas mais baratas para cana. As terras da região costumavam ser negociadas por entre 60% e 70% do valor de área similar em Ribeirão Preto. Hoje, a relação está próxima de 80%. “A cultura começa a avançar para os limites de Goiás, Minas, Mato Grosso do Sul e Parará”, afirma.