Redação (03/10/06)- A comercialização da soja em grão produzida no Brasil na turbulenta safra (2005/06) chega em sua reta final com preços sustentados, ainda que abaixo dos valores praticados nesta mesma época da temporada passada. Segundo analistas, a oferta cada vez mais escassa e os leilões promovidos pelo governo federal ajudaram a oferecer suporte às cotações. E é improvável, com o quadro atual, que o mercado seja surpreendido com mudanças drásticas de rumos até o fim deste ano. Ou seja, as queixas dos produtores perduram, principalmente no Centro-Oeste, e segue em ritmo letárgico a comercialização antecipada da produção da safra 2006/07, que está em fase de plantio em algumas regiões.
Cálculos de consultorias e corretoras indicam que os agricultores têm em mãos para vender cerca de 10% da safra 2005/06 de soja – estimada, no total, em 53 milhões de toneladas pela Conab -, percentual considerado dentro da média histórica. E que tradings e indústrias esmagadoras mantêm operações confortáveis, o que reduz a possibilidade de uma “corrida” capaz de motivar uma disparada da matéria-prima. “Os negócios estão saindo porque têm de sair. É um fim de safra dentro da média, um pouco mais acelerado que no ciclo passado”, disse Seneri Paludo, da Agência Rural.
Nas contas de Paludo, há um pouco menos de 10% da produção de 2005/06 a ser vendida no país, ante 12% na média histórica e 23% em 2004/05. A sazonalidade apareceu no balanço apresentado ontem pelo Ministério do Desenvolvido sobre as exportações brasileiras. Os embarques de soja somaram 1,996 milhão de toneladas no mês passado, 22,3% menos que em agosto e 5,6% abaixo de setembro de 2005. O valor dessas vendas chegou a US$ 449,8 milhões, com quedas de 22,8% e 13,7%, respectivamente.
Em Rondonópolis (MT), segundo a Agência Rural, a saca de 60 quilos está em torno de R$ 23,50, R$ 1 acima do preço praticado no início de setembro mas quase R$ 2 abaixo do valor observado no início de outubro do ano passado. “Os preços subiram um pouco no último mês e o mercado interno voltou a se descolar de Chicago nesta época, o que não acontecia há três anos. Se fosse seguir a paridade de exportação agora, o produtor estaria recebendo até R$ 3 a menos”, observou Paludo.
Ontem, em Chicago, os contratos futuros com vencimento em janeiro fecharam a US$ 5,6025 por bushel – abaixo da média histórica de cerca de US$ 6 -, com perda de 2 centavos de dólar sobre sexta-feira. Em relação ao último dia útil de 2005, a queda alcança 8,68%.
É no Centro-Oeste, onde o aumento dos frentes se conjugou com o fator câmbio e aprofundou a crise de liquidez dos produtores, que há menos soja disponível. Conforme a Tetras Corretora, os produtores da região tem no máximo 4% de sua produção para vender. No país, estima, a fatia é de até 13%. “Os leilões [de prêmios] do governo ofereceram algum suporte aos preços a partir de agosto e ajudaram também a movimentar a comercialização direta entre produtores e indústrias”, afirmou Renato Sayeg, da Tetras. Na quinta-feira novas operações de Prêmio Equalizador ao Produtor (Pepro) e de Prêmio de Equalização da Soja (Pesoja) ofertarão 40 mil toneladas cada, para beneficiar o grão colhido na Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Minas e Mato Grosso.
Última região a plantar e a colher, o Sul do país concentra a maior parte da oferta de soja “velha” disponível. De acordo com Antonio Sartori, da corretora Brasoja, 15% da produção gaúcha ainda está nas mãos dos produtores. Naquele mercado, disse, a saca vem sendo vendida por R$ 23, abaixo dos R$ 24 desse mesmo período da temporada 2004/05. “Se nada novo acontecer, esses preços, baixos, não deverão mudar muito, e as contas dos produtores continuarão sem fechar”. Com isso, no Rio Grande do Sul as vendas antecipadas da safra 2006/07 estão paradas. Normalmente, disse, os sojicultores do Estado comprometem até o fim do ano 30% do que prevêem colher a partir do início do ano seguinte.
“Para fazer um mal negócio não é preciso ter pressa”, disse um produtor à Seneri Paludo. No caso dos preços da futura produção, ressaltou Sartori, já é preciso ficar atento ao clima. Há a possibilidade de o fenômeno “El Nio” provocar chuvas em demasia em áreas do Centro-Oeste, prejudicando a produção. Para a Agência Rural, a safra brasileira de soja chegará a 52,5 milhões de toneladas em 2006/07; para a Tetras, alcançará 56 milhões – mesmo volume estimado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).