A comercialização de soja bem como os preços pago aos produtores já foram afetados devido aos atrasos nos embarques da oleaginosa, provocados por problemas nas estradas e nos portos. De acordo com o jornal Folha de São Paulo, nas últimas duas semanas, as empresas que compram a matéria-prima dos produtores e vendem para os importadores, também conhecidas como tradings, reduziram o ritmo das aquisições.
Segundo o gestor do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca, as empresas afirmam que pararam de vender porque não têm condições de levar a soja ao mercado externo. “Elas querem evitar o descumprimento de contratos, como o ocorrido nesta semana com a China”, disse. Um grande trading chinesa cancelou, nesta semana, a compra de dois milhões de toneladas de soja do Brasil.
Dados do Instituto apontam que ao final do mês passado, cerca de 63% da safra atual mato-grossense havia sido comercializada, embora a colheita tenha atingido 43% da área na ocasião. Até a última semana, a colheita avançou 85% da área calculada em pouco mais de 7 milhões de hectares, porém, as vendas não ocorreram no mesmo ritmo, alcançado 76%.
A indústria compradora de soja para o processamento ou para a exportação confirma a redução dos negócios. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), os problemas com o transporte da safra elevaram substancialmente o custo interno de movimentação dos grãos. “O frete entre Sorriso e Santos (SP) já chegou a R$ 300 por tonelada. Além disso, tem exportador pagando US$ 20 mil por dia de atraso para navios que aguardam nos portos”, explicou o gerente de economia da associação, Daniel Furlan Amaral.
Com a queda do preço internacional da soja (- 4% em uma semana) e dos prêmios para estímulo à exportação, os ganhos foram reduzidos. Para a associação, a única solução para a retomada da comercialização será a redução do preço interno da soja, reduzindo o lucro dos produtores rurais. Para evitar esse impacto sobre os agricultores, o preço internacional da soja teria de subir ou o custo da logística interna, cair. “Não acho que vá ocorrer nem uma coisa nem outra”, disse Amaral.
Preços – O preço da soja em Rondonópolis, uma das principais praças de comercialização do país, caiu 9% na semana passada segundo o Imea. “Em uma semana, o produtor perdeu R$ 3,20 por saca. É muito”, disse Latorraca. As cotações em Mato Grosso acompanham a retração da Bolsa de Chicago, referência do mercado internacional, porém, sofrem mais devido ao custo logístico. A saca de 60 quilos no Estado está cotada a cerca de R$ 45.
A maior parte da soja do Estado está a mais de 2 mil quilômetros dos principais portos de exportação de soja. Com o caos logístico, o custo assumido pelas “tradings” para vencer essa distância está sendo descontado dos preços pagos ao produtor.
Para Latorraca, a comercialização deve voltar ao normal à medida que os problemas logísticos sejam amenizados, com redução no tempo de espera dos navios para atracar nos portos.
A redução no ritmo dos negócios, porém, tem limites. Produtores que não possuem armazéns e ainda não venderam o grão podem se sentir pressionados a fazê-lo nas próximas semanas, porque o produto pode estragar. Além disso, o estoque nos principais importadores está baixo.