Redação (09/06/06)- Certificar os produtos da cadeia alimentar é uma ação que tem se tornado cada vez mais comum na Europa. O mesmo deve acontecer no Brasil com a soja: dentro de dois anos a certificação do grão deve ser uma exigência no mercado interno e principalmente para os produtos destinados à importação. “”Vai chegar uma época em que o mercado externo só vai comprar produtos certificados””, afirmou ontem o diretor executivo do Departamento de Certificação do Instituto Gênesis, Marcelo Rocha Holmo, que ministrou palestra sobre o assunto no IV Congresso Brasileiro de Soja.
Holmo explicou que o Certificado Eurepgap, já bastante aplicado na Europa e que pode ser obtido no Brasil através do Instituto Gênesis, preconiza boas práticas agrícolas. “”É um certificado para o campo e que prova que o produto foi elaborado adequadamente, dentro de normas de responsabilidade social””, disse o diretor do Instituto. Ter esse certificado, segundo ele, é uma prova que na propriedade não há, por exemplo, a prática de trabalho escravo e a exploração infantil. Pelo contrário, mostra que os proprietários oferecem certos benefícios e estrutura de trabalho aos funcionários, como reuniões frequentes sobre a produção.
“”Essa é uma norma voluntária, mas lá fora tem sido muito praticada, pois os consumidores estão buscando por alimentos mais “seguros” e essa certificação se mostra como uma alternativa””, observou Holmo. Ele acrescentou que ocorrências de incidentes na origem de produtos e a incerteza das consequências do consumo de alimentos modificados em laboratório, levantam dúvidas aos olhos do consumidor na hora de adquirir os produtos nas gondôlas, por isso essa tendência de certificar os produtos.
O trabalho do Europgap, conforme Holmo, começou em 1999 com 17 grandes organizações de supermercados europeus. Eles elaboraram um protocolo único, preconizando as boas práticas agrícolas e com o objetivo de criar uma norma padrão de segurança alimentar da produção primária da rede varejista.
Outra medida de controle que tem sido muito aplicada para identificar os produtos, conforme Holmo, é a rastreabilidade. O objetivo dessa ferramenta é identificar toda a cadeia produtiva do item final. “”Se um produto na gôndola apresentar algum problema, o proprietário da loja vai conseguir identificar a indústria que o produziu, que vai identificar a cooperativa que forneceu a matéria-prima, que por consequência vai saber identificar de qual produtor fez essa compra””, explicou o diretor da Gênesis. A rastreabilidade, segundo ele, pode ser identificada por exemplo através do rótulo do produto.
Propriedade O protocolo Eurepgap, por sua vez, tem sido aplicado em vários segmentos de produção alimentar na Europa, mas só agora vai ter início na cadeia da soja. A primeira propriedade a ser certificada na cadeia da soja está localizada no Brasil.
Segundo Anderson Souza Figueiredo, gerente de meio ambiente da Fazenda Ribeiro do Céu, localizada em Nova Mutum (MS), a certificação deve sair até o final do ano. “”Seremos a primeira propriedade do mundo certificada na cadeia da soja e do milho. O nosso objetivo é agregar valor ao produto e usar o Eurepagap como um passaporte para a exportação””, comentou ele. A fazenda tem 33 mil hectares de soja – e destes, 14 mil ha serão certificados.
Figueiredo destacou que o processo de certificação é um pouco demorado, pois demanda várias mudanças na propriedade. Entre elas, o treinamento de funcionários, criação de programas de conservação ambiental e gestão de negócios informatizada. O processo de certificação na Ribeiro do Céu teve início em 2005.