Pequim e o influente Departamento de Agricultura norte-americano (USDA) podem ter exagerado a estimativa de safra de milho da China em até 14 por cento, o que indicaria mais importações do segundo maior consumidor mundial do grão e que poderia apertar ainda mais as ofertas globais.
Caso a China preencha a lacuna entre a oferta projetada e a fornecimento doméstico efetivo com mais importações de milho, isso pode elevar os preços internacionais, já próximos de máximas de quatro meses. Os mercados de trigo também podem sentir o impacto, caso Pequim adquira o grão como substituto para o milho de ração animal.
“Muitos estão céticos sobre os dados de produção de milho”, disse Li Qiang, analista sênior da JC Intelligence (JCI). “A indústria esperava um aumento da produção, mas não tanto quanto disse o escritório.”
O Escritório Nacional de Estatísticas da China disse que as fazendas produziram uma safra recorde de milho de 191,8 milhões de toneladas. Porém, autoridades locais normalmente exageram o tamanho das safras chinesas para impressionar as autoridades centrais e conseguir mais subsídios.
Uma investigação feita pela Reuters, com base em avaliações de algumas cooperativas, tradings e a JCI, sugere que Pequim exagerou o tamanho da safra em entre 6,8 milhões de toneladas e 24 milhões de toneladas, o equivalente a entre 12 dias e 44 dias de consumo.
O impacto das ofertas mais apertadas que o esperado já está sendo sentido no mercado doméstico. A competição entre os processadores da indústria local e agências de compra estatais está elevando os preços domésticos.
Compradores estatais de grãos estão se esforçando para reabastecer os esvaziados estoques nacionais, aumentando o risco de o governo limitar as compras por processadores, cuja rápida expansão tem sido responsabilizada por Pequim por ameaçar a oferta de grãos do país.
Os estoques estratégicos estão bem abaixo do nível de conforto do governo, após três anos nos quais Pequim os utilizou para aumentar a oferta doméstica e reduzir os preços dos alimentos, elevados pela crescente demanda por carne em uma população cujo aumento de renda é cada vez maior. Os baixos estoques dão à Pequim pouca margem de manobra antes de ter que importar.
O Departamento de Agricultura norte-americano (USDA), que depende de traders internacionais para medir a demanda global e a oferta, estima a safra recorde mais as importações de 4 milhões de toneladas vão atender a demanda chinesa este ano.
Mas o país pode precisar de mais compras para cobrir a queda na oferta diante safra superestimada, impulsionando o mercado global de milho já impulsionado após severa seca que afetou Brasil e Argentina.