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China faz deságio da soja brasileira bater recordes

Restrições em Paranaguá também afetam os prêmios do produto.

Da Redação 29/06/2004 – 06h29 – A rejeição de cargas de soja brasileira pela China acentuou o deságio (chamado de prêmio negativo pelo mercado) dos preços do produto em Paranaguá em relação às cotações da bolsa de Chicago, levando-o para um nível recorde, segundo operadores.

O desconto, que tradicionalmente ocorre no primeiro semestre por causa da maior oferta de soja decorrente da safra no Brasil, vinha acontecendo desde janeiro deste ano. Mas teve um aumento abrupto quando a China anunciou a recusa da soja brasileira após a descoberta de sementes tratadas com fungicida em algumas cargas do Brasil em maio deste ano.

O deságio médio que era de 115,24 centavos de dólar por bushel em abril em relação ao preço de Chicago subiu para 162,14 centavos de dólar, em média, em maio, segundo a Safras & Mercado. Na sexta-feira, o desconto atingiu 190 centavos de dólar e ontem ficou em 180 centavos de dólar, conforme a Safras.

De acordo com Flávio França Júnior, analista da Safras, as medidas tomadas pelo governo paranaense restringido as exportações de soja transgênica em Paranaguá foram as responsáveis pelo forte deságio do produto entre janeiro e abril deste ano. Segundo ele, as restrições “tornaram mais lento o processo operacional do porto, o que diminuiu a liquidez da soja brasileira”. As medidas chinesas só serviram para piorar o quadro a partir de maio.

Renato Sayeg, diretor da Tetras Corretora, acrescenta que as restrições em Paranaguá fizeram o porto começar a perder espaço para o de Santos. Entre fevereiro e maio deste ano, os embarques de soja em Paranaguá ficaram em 1,316 milhão de toneladas. Em Santos, no mesmo período, foram embarcados 3,056 milhões de toneladas. No mesmo período de 2003, Paranaguá escoou 2,877 milhões de toneladas e, Santos, 2,476 milhões de toneladas.

A partir do mês de maio, lembrou Sayeg, os problemas com a China contribuíram para intensificar os deságios. “Não é nenhuma novidade prêmios negativos para a soja brasileira durante a safra”, disse Sayeg.

O bom clima nos Estados Unidos para a soja americana também ajuda derrubar os prêmios atuais, mesmo com a suspensão do embargo da China para a soja brasileira. “Estamos a dois meses da colheita da soja nos EUA e as perspectivas são de que não haverá problemas de produção.”

O prêmio, que pode ser positivo ou negativo, existe para ajustar os preços da soja em relação a Chicago, levando em consideração aspectos como oferta, demanda e custos logísticos.

Como os preços de Chicago refletem a situação do mercado americano, o prêmio serve para ajustar as cotações em outras regiões de comercialização.

Um operador observa que um dos motivos para o maior desconto para a soja brasileira foi a recente forte alta dos preços em Chicago. Como a valorização reflete uma situação local – aumento do consumo nos EUA- , o produto brasileiro sofreu deságio. De acordo com analistas, os atuais prêmios negativos estão bem acima da média história, que para o período oscila entre 70 e 80 centavos de dólar.

Mesmo com o recuo dos prêmios, Sayeg pondera que os atuais preços da soja FOB Paranaguá, descontados os prêmios negativos, estão equilibrados com os patamares do mesmo período do ano passado. Ontem, a soja em Paranaguá, já com desconto de 180 centavos de dólar, equivalia a US$ 6,275 por bushel.

Silmara Gallo, da Lucra Corretoraafirma que as indicações são de prêmios negativos para a soja no segundo semestre deste ano e também em 2005 por causa da projeção de safra recorde nos Estados Unidos. A estimativa é de uma produção de 80 milhões.