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Clima e demanda mantêm soja nas alturas

Primeiro semestre do ano terminará com as cotações médias das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior em patamares mais baixos que em igual período de 2011.

Clima e demanda mantêm soja nas alturas

Marcado por problemas climáticos e pela persistente crise na zona do euro, o primeiro semestre do ano terminará com as cotações médias das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior em patamares mais baixos que em igual período de 2011. É o que apontam cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) dos produtos transacionados nas bolsas de Chicago (milho, soja e trigo) e Nova York (açúcar, algodão, cacau, café e suco de laranja).

De todos eles, apenas a soja, carro-chefe do agronegócio no país, escapou da tendência. Sobretudo por conta da quebra da safra na América do Sul, derivada de uma prolongada estiagem causada pelo fenômeno La Niña, e da ainda forte demanda chinesa, a oleaginosa que lidera os rankings de valor bruto da produção (VBP) e de exportações do setor fecha os primeiros seis meses de 2012 com preço médio 5,8% superior ao de igual intervalo do ano passado.

Em todas as demais commodities, o resultado da comparação foi negativo. No balanço fechado no dia 28 de junho, açúcar, algodão, café e trigo registraram as cotações médias semestrais menores desde a primeira metade de 2010. A média do milho foi a mais baixa desde o segundo semestre daquele ano, enquanto o cacau desceu ao menor patamar desde o primeiro semestre de 2007. Assim, o cacau tornou-se, até agora, o único produto do levantamento que voltou a um nível de preços anterior ao debacle do Lehman Brothers, em setembro de 2008, que brecou a curva de ascensão das commodities no mercado internacional.

Destaque positivo no semestre, a soja também passou a refletir com mais força em Chicago, em junho, as adversidades climáticas que afetam o desenvolvimento das lavouras nos EUA. O calor e a seca no Meio-Oeste ajudaram a commodity a resistir a valorizações do dólar, a atrair apostas dos fundos de investimentos e a fechar o mês com cotação média apenas 0,73% inferior à registrada em maio. Também com plantações em desenvolvimento nos EUA, o milho recuou 2,5%, em um ambiente de volatilidade ainda mais exacerbada do que o normal nos últimos três anos. O trigo subiu com a ajuda do nervosismo climático (3,59%), que tende a perdurar em julho.

Em Nova York, preocupações climáticas também influenciaram os preços, mas sem força para conter um movimento generalizado de perdas. “Ninguém entendeu o porquê desse derretimento tão rápido e não faltaram especulações. O fato é que as soft commodities [açúcar, cacau, café e algodão] estão dando canseira aos gestores. Todas elas apresentaram queda nessa última semana”, afirma Arnaldo Corrêa, gestor de risco e diretor da Archer Consulting, em análise divulgada ontem. No foco de Corrêa está o açúcar, que apesar das chuvas no Brasil estarem prejudicando a colheita de cana, fechou junho com cotação média 2,84% inferior à de maio e passou a apresentar baixa de 19,55% sobre a média de um ano atrás.

O grande destaque negativo foi o algodão, que sofre a influência do clima nos EUA mas que tem na menor demanda global e nos elevados estoques da China seus principais fatores de pressão. O preço médio do produto caiu 12,54% sobre maio e já acumulada queda de quase 50% em relação ao mesmo mês de 2011.

Mas o café não ficou muito atrás: desabou praticamente 10% na comparação com maio e apresenta baixa de 39,49% sobre junho de 2011. Rodrigo Costa, diretor da Caturra Coffees, acredita que o mercado ainda não se recuperou da “ressaca” de preços muito altos, e que os valores praticados até o segundo semestre do ano passado contribuíram para que a negociação de cafés da produção brasileira do ciclo 2011/12 fosse menor. Além disso, a safra 2012/13 brasileira será volumosa, apesar de as chuvas atrasarem a colheita.

Clima adverso, demanda fraca e dólar “duelaram” para determinar a direção dos preços de suco de laranja e cacau em junho, mas a resultante para ambas foi negativa. Mesmo com a ameaça de furacões na Flórida e as chuvas no Brasil, o suco recuou 2,3% sobre maio, enquanto o cacau caiu 2,82% apesar das incertezas sobre a oferta no oeste da África.