Roraima não vai mais colher as 60 mil toneladas de soja do potencial inicialmente estimado. O resultado deve ficar entre 40 e 45 mil toneladas. Com mais da metade da área colhida, o estado revisa para baixo os números de um ciclo fortemente impactado pela estiagem. Do plantio à colheita, as chuvas foram insuficientes e mal distribuídas. Além de a precipitação ficar abaixo da média, o calor intenso de até 40º também teve sua contribuição negativa no desenvolvimento das lavouras.
Com 18 mil hectares cultivados, a média de produtividade no ciclo atual deve fechar entre 2,2 mil e 2,5 mil quilos/ha, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo na última semana. Apesar do revés provocado pelas condições climáticas, a produção segue em alta. No ano passado, foram colhidas perto de 34 mil toneladas em 12 mil hectares, com média próxima de 2,8 mil quilos. Localizado no Hemisfério Norte do país, acima da Linha do Equador, Roraima segue um calendário inverso e colhe na entressafra do Brasil, em ciclo idêntico ao dos Estados Unidos.
Ano atípico
Afrânio Weber, um dos produtores que planta soja há mais tempo no estado, explica que o ano foi totalmente atípico e que nem mesmo as áreas irrigadas conseguiram suportar o calor intenso verificado nos últimos meses. Ele conta que, apesar do rendimento aquém do que a tecnologia pode proporcionar, os 900 hectares irrigados foram a salvação da lavoura. Com outros 1,1 mil de sequeiro, Weber deve encerrar a temporada com média de 50 sacas ou 3 mil quilos/ha. Segundo Weber, pelo histórico climático do período de dez anos que se dedica à agricultura na região, os próximos três anos devem ser de clima mais regular.
Em sua segunda safra no estado, Joarez Vendrusco, que não tem pivô de irrigação, deve encerrar a colheita dentro da média do estado para este ano em seus 1 mil hectares cultivados. Apesar da preocupação com o baixo rendimento e as cotações em queda da commodity, ele aposta em um desempenho melhor em 2015. As novas fronteiras têm o seu preço, pondera Vendrusco. Nessa linha, o produtor entende que a incorporação de novas áreas não pode parar. Mas que, depois de anos como este, deve ocorrer mais devagar. Ele deve plantar uma área maior na próxima safra, mas talvez não chegue aos 1,5 mil hectares que planejava.
Os sócios Geison Nicaretta e Alcione Nicoletti, que também estão há dois anos em Boa Vista, não apenas acreditam no potencial como decidiram ampliar e diversificar o investimento na região. Como ocorreu com os demais produtores, eles também sofreram com a seca. O potencial produtivo das suas áreas, estimado em 50 sacas/ha, deve atingir média de no máximo 35 sacas. Até poderia ser um motivo para rever os planos na nova fronteira. Mas, ao contrário, além do projeto para introduzir o gado na entressafra da soja, há um mês eles abriram um revenda de produtos agropecuários na cidade.
Expedição Safra abre colheita no estado
A Expedição também acompanhou uma dinâmica de campo que contou com uma exposição de máquinas, equipamentos e serviços à agricultura e pecuária. Os dois eventos reuniram perto de 1 mil pessoas, representantes de todos os elos da cadeia produtiva, do público e do privado, de pelos menos seis estados do Sul, Centro-Oeste e Norte do país.
Com a incursão a Roraima – esta foi a segunda passagem pelo estado nesta temporada – a Expedição Safra encerra oficialmente o trabalho de campo da safra 2013/14 em território nacional. Do plantio à colheita, foram 15 estados visitados, que juntos representam mais de 90% da produção de grãos. Em outubro as equipes de técnicos e jornalistas dão início à sondagem 2014/15.
Área tem potencial para dobrar em 2015
Com a metade final da safra sendo colhida, Roraima experimenta o quarto ano consecutivo de aumento na produção de soja. Depois de cair a 1,4 mil hectares, em 2010, a área plantada registra altas expressivas a cada ano.
O potencial para 2015 é de 40 mil hectares. Mas os planos estão sendo revistos por conta do revés climático na temporada atual e do viés de baixa na cotação internacional da commodity. Ainda assim, a expectativa é que a extensão cultivada ocupe entre 30 e 35 mil hectares, praticamente o dobro da área de 2014.
Além do clima e do mercado, outras variáveis à expansão estão nos instrumentos disponíveis à comercialização e na logística ao escoamento dos grãos. Com o aumento da produção, os produtores entendem como condição operar no mercado futuro e se proteger diante das oscilações na Bolsa de Chicago e no câmbio. Em paralelo às cotações, os produtores se esforçam na estruturação do único canal de escoamento factível no momento, que passa pelos portos de Manaus, há 750 quilômetros, e de Itacoatiara, há 1 mil quilômetros.
Em Manaus, a estrutura para embarcar grãos precisa ser adaptada e, em Itacoatiara, a condição é ter contrato com os operadores do terminal, o que restringe as opções ao Grupo Maggi e à Bunge. Uma pequena parte da produção também pode ser negociada com a Venezuela.
De qualquer forma, para baixo ou para cima, com ou sem a infraestrutura adequada, o diferencial competitivo é considerado fato consolidado. O desafio é encontrar comprador e garantir o abastecimento, o que depende de escala.
Para Álvaro Calegari, secretário estadual de Agricultura, o agronegócio é uma das principais apostas para o desenvolvimento econômico e social de Roraima. Apesar da produção relativamente pequena, a soja já representa mais de 80% das exportações do estado, lembra o secretário. Na safra passada, a oleaginosa adicionou US$ 15 milhões à economia local. Segundo Calegari, há um esforço no sentido de agilizar os processos de regularização fundiária das áreas, uma vez que a legalização é condição à expansão.