Redação (18/05/06) – Se a crise de renda aprofundada pela valorização do real em relação ao dólar já havia acendido o sinal de alerta para os agricultores do oeste da Bahia, os reflexos adversos do clima nas lavouras da região nesta safra 2005/06 azedaram de vez os humores no pólo de produção de grãos encabeçado pelos municípios de Luís Eduardo Magalhães e Barreiras, um dos mais importantes do país.
A área plantada total praticamente se manteve na temporada – houve até um pequeno acréscimo em relação a 2004/05, de 1,4 milhão para 1,5 milhão de hectares -, mas já são certas quedas significativas de produtividade. Puxado pela região, o Estado da Bahia registrou, conforme a Conab, a segunda maior área de algodão no país em 2005/06; no caso da soja, os baianos ocuparam a sétima posição no ranking nacional; no do milho, a nona.
A seca de janeiro, que chegou a se estender por 37 dias nas áreas mais afetadas, deve diminuir a produtividade média final da soja na região em 17%. No ano passado, o rendimento foi de 46 sacas por hectare, número que neste ciclo que está em fase final de colheita deverá ficar em 38 sacas. Em algumas propriedades, a média foi ainda menor: 35 sacas.
Depois da seca, as chuvas, que começaram na segunda quinzena de março mas se intensificaram em abril, atrasaram a colheita do grão e motivaram a disseminação de plantas invasoras em algumas áreas de plantio, entre outros problemas. A área plantada de soja manteve-se em 870 mil hectares no oeste, mas a produção não deverá superar 2 milhões de toneladas – em 2005, foram 2,4 milhões.
Nas plantações de algodão, as chuvas afetaram o baixeiro, parte da planta onde ficam as primeiras plumas aptas à colheita, que começará no início de junho. Mais de 10% das plumas desta safra estão podres, e a tendência é de aumento, segundo Ivanir Maia, assessor de agronegócios da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Já há estimativas de perdas de 20%.
O algodão ocupou 211 mil hectares no oeste da Bahia nesta safra, 2 mil a mais que no ano passado, mas a produção esperada é de 744 mil toneladas – em 2005, foi de 807 mil. “A umidade também está afetando a coloração das plumas, o que reduz seu valor de mercado”, afirma Maia.
Mas a quebra maior, de mais de 40%, está ocorrendo no milho. Em algumas propriedades, as perdas causadas pela seca e pelo excesso de chuvas chegam a 100%. Com a estiagem, surgiram com mais intensidade pragas como a lagarta do cartucho, que fura as espigas. E as chuvas subseqüentes entraram nas espigas atacadas pela lagarta, prejudicando seu desenvolvimento.
“Esta é a segunda pior safra em volume de perdas na região nos últimos dez anos”, diz o engenheiro agrônomo Landino José Dutkievicz, da consultoria Plasteca. Ele acredita que um dos desdobramentos dessas adversidades climáticas será a redução da área de soja na próxima safra, com avanço da área de milho – cujo rendimento já estaria maior que o da soja.
Para alguns produtores, contudo, o clima vem sendo um inimigo secundário. “Pior é a queda de receita causada pelo câmbio”, diz Walter Yukio Horita, que plantou 13,6 mil hectares de algodão em São Desidério, a 684 quilômetros de Salvador, e também tem áreas de soja e milho. Ele acredita que a produtividade do algodão cairá “um pouco” e diz que o apodrecimento das maçãs do algodão também ocorreu, embora com menos intensidade, em 2005. Segundo a Aiba, a área dedicada ao algodão no oeste baiano no ano passado foi de 209,6 mil hectares. Foram produzidas 807,3 mil toneladas, o que representa uma produtividade de 257 arrobas por hectare. Para esta safra, espera-se produtividade de 235 arrobas por hectare.