Levantamento da Agência Rural aponta que, após um plantio antecipado e bastante concentrado de soja em 2009/10, o Brasil colherá em janeiro e fevereiro aproximadamente 35 por cento de sua produção, estimada pela consultoria em um recorde de 65,2 milhões de toneladas.
Isso significa que, no primeiro bimestre, o Brasil colherá 22,7 milhões de toneladas da oleaginosa, contra apenas 13,3 milhões de toneladas da colheita feita nos dois primeiros meses da safra passada, volume equivalente a 23 por cento da produção brasileira naquela safra.
Com as chuvas antecipadas no fim do ano passado, mais produtores puderam plantar antes suas lavouras em 09/10. Além disso, o uso de variedades com ciclo mais curto tem aumentado, permitindo que mais sojicultores colham antes, segundo a consultoria.
“Ano a ano, o período médio de uma lavoura vem diminuindo, a gente vem encurtando o ciclo da soja pelo trabalho genético”, declarou Eduardo Godoi, analista da Agência Rural.
Em março, o analista estima que o volume colhido será ainda maior, com a expectativa de colheita de 30,7 milhões de toneladas em um único mês, quando os trabalhos atingem o ápice nos Estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia.
A colheita começou com força no Brasil este ano em Mato Grosso, o maior produtor nacional, que foi origem da maior parte dos quase 4 milhões de toneladas colhidas em janeiro.
Somando janeiro, fevereiro e março, a Agência Rural estima que o Brasil terá colhido 53,4 milhões de toneladas, um volume próximo da produção da Argentina, o terceiro produtor mundial, atrás de Brasil e EUA.
Consequências
Uma oferta tão grande de soja em poucos meses tem gerado uma pressão adicional nos preços, que tradicionalmente caem com a colheita, e também terá implicações no escoamento e na logística da safra.
“Essa enxurrada de soja logo no primeiro bimestre tende a acelerar as exportações da oleaginosa nos portos brasileiros. Os embarques, que costumam pegar fogo a partir de abril, devem ter volumes expressivos em fevereiro e março, inclusive com possibilidade de recordes”, destacou a consultoria.
O Brasil é o segundo exportador mundial de soja, cujo complexo, incluindo farelo e óleo, lidera a pauta de exportações do agronegócio do país.
“A colheita que era feita de abril e maio vai migrar para março”, acrescentou Godoi.
Assim, o volume colhido em abril e maio vai cair drasticamente em relação aos últimos anos, para 11,7 milhões de toneladas, segundo estimativa da Agência Rural.
Em meio a uma safra que se desenvolve bem até o momento, o que indica um recorde de produção, a consultoria também espera um escoamento mais rápido nesta temporada, o que pode gerar problemas logísticos e alta do custo do frete, em um país com armazenagem ainda deficitária.
Segundo avaliação do analista, a “safra cheia” no Sul do Brasil deverá encarecer o transporte da soja do Cerrado, “ao impedir que caminhoneiros sulistas subam para socorrer as transportadoras do Centro-Oeste”.
“Já se fala em aumento de 20 por cento nos preços do frete…”, segundo o consultor.