Da Redação 15/07/2004 – 08h35 – As cotações do milho estão em queda no mercado interno, refletindo o avanço da colheita da safrinha e os preços internacionais. Para amenizar a situação, os produtores estão segurando a venda, esperando melhores preços. Mas, em Mato Grosso, a falta de armazéns poderá fazer com que o milho fique a céu aberto. É nesta região do País onde a colheita está mais adiantada, cerca de 50%, e o produto está com a cotação mais baixa: R$ 11 a saca, próximo ao preço mínimo de garantia do governo.
Ação governamental
Para diminuir a tendência de queda de preço, o governo estuda lançar contratos de opção de 500 mil toneladas do grão, com vencimento entre outubro e novembro. O volume, preços e condições estão sendo discutidos entre os ministérios da Agricultura e Fazenda. A expectativa é que, na próxima semana, sejam anunciados os leilões de opção. O temor do governo é que as baixas cotações possam se refletir na queda da área plantada para a safra de verão, como vem acontecendo desde 2001.
“A procura pelas opções pode ser grande, provocando um ágio estupendo e tendo um resultado quase nulo no mercado”, avalia Carlos Cogo, analista da Cogo Consultoria. Para ele, o volume ofertado pelo governo é baixo para causar impacto nos preços. O ideal, segundo Cogo, seria pelo menos 2 milhões de toneladas em opções. De acordo com Sílvio Farnesi, coordenador de Abastecimento Agropecuário do ministério, o volume inicial, que ainda não foi definido, poderá ser ampliado.
Cogo salienta que a queda do preço do milho no mercado interno – média de 7% nos últimos 30 dias no Brasil – é resultado também da baixa nas cotações internacionais, que chegaram a 20% em 50 dias. Com isso, a paridade de exportação também caiu e a tendência é que as vendas externas sejam menores no segundo semestre.
“Em Mato Grosso é mais complicado porque o consumo é baixo e junto com a Bahia foi o estado que aumentou a produção na safrinha”, diz o analista da consultoria Solo Brazil, Adriano Vendeth de Carvalho. Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na segunda safra de milho o estado aumentou em 15% área cultivada, atingindo uma produção de 2,6 milhões de toneladas (7% maior que em 2003). Em todo o País serão 10 milhões de toneladas.
O analista acredita que o produtor vai continuar segurando as vendas dos grãos, pois as perspectivas são de que, até o final do ano o preço da saca possa subir até R$ 3. Segundo Carvalho, esta hipótese é factível porque o Brasil não vai ter um excedente superior a 2 milhões de toneladas, no fechamento do quadro de oferta e demanda.
“Os produtores estão enfrentando problemas de armazenamento, principalmente na região de Lucas de Rio Verde e Campo Novo dos Parecis, mas são obrigados a segurar o grão, pois o preço está muito baixo”, diz Rui Carlos Prado, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). Segundo ele, no Norte do estado o milho está cotado a R$ 10 a saca e no Sul, R$ 12. Dados da Conab mostram que o déficit de armazenagem no estado é de 7,6 milhões de toneladas a granel.
O vice-presidente do Sindicato Rural de Lucas de Rio Verde, Egídio Raul Vuaden, diz que o preço está muito baixo para o custo de produção. O grão está cotado na região a valores próximos a R$ 11 a saca, enquanto o custo para produzi-la ficou entre R$ 13 e R$ 15. “Os armazéns estão no limite, pois ainda tem muita soja para escoar. Poderá ocorrer de, no período da seca, ter milho a céu aberto”, diz Vuaden. Para ele, o lançamento das opções ajudará a enxugar o mercado, dando fôlego ao produtor. “Mas o governo já devia ter agido”, diz.
Baixa nacional
Nos demais estados, importantes produtores de milho safrinha, a colheita está um pouco menos adiantada. Segundo a Solo Brazil, em Goiás cerca de 15% foi colhido, no Paraná, 13%, e em São Paulo, 5%. O forte da colheita do grão ocorre no final deste mês. De acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), na média, desde o início da colheita, no mês passado, os preços caíram 12% no Paraná – principal produtor do grão – e 8,3% em Mato Grosso.
No Paraná, o mercado está travado. “As indústrias se abasteceram porque temiam explosão de preços no segundo semestre”, diz Vera Zardo, engenheira agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Paraná. Segundo ela, os preços estão em queda à medida que se intensifica o percentual colhido e que se constata que não haverá desabastecimento pois, apesar das geadas de junho, a safrinha terá um volume razoável.