O Porto de Paranaguá (PR) passou Santos (SP) e se tornou a principal porta de saída para o milho no Brasil neste início de temporada de embarque da produção de inverno. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgados no fim da semana passada e compilados pelo Agronegócio Gazeta do Povo (AgroGP) revelam que, de janeiro a julho de 2014, 1,4 milhão de toneladas do cereal foram exportadas pelo terminal paranaense. O volume é superior ao movimentado pelo porto paulista, que embarcou 1,3 milhão de toneladas no mesmo período e que, nesta época do ano passado, tinha a liderança nas vendas externas.
O fluxo do milho é favorecido pela finalização do escoamento da soja em Paranaguá. Com menos cargas da oleaginosa, o porto concentra agora as operações sobre o cereal. A alteração do ranking ocorreu em julho, quando o corredor de exportação do Paraná registrou aumento de 191% em relação ao volume movimentado no mesmo mês do ano anterior – 445,8 mil toneladas do produto deixaram o país pelo estado, contra 153 mil toneladas embarcadas em julho de 2013.
A redução no tempo de espera para carregamentos também ajuda. Eleva os prêmios oferecidos pelos exportadores, que estão “superpositivos”. Nesta época de 2013 havia desconto para embarque por Paranaguá. Hoje, os compradores adicionam cerca de US$ 2,50 por saca à cotação do grão que sai do país pelo Paraná.
“A situação em Paranaguá está mais tranquila que em Santos. O prêmio é uma soma de condições que mede a eficiência do porto, tem a ver a com capacidade e velocidade de embarque e também com o próprio interesse do exportador de embarcar por ali”, explica Aedson Pereira, analista de mercado da Informa Economics FNP.
Paranaguá alega que conseguiu resolver os problemas das filas de caminhões e de navios neste ano após implantar novas regras aos transportadores marítimos e aos agentes exportadores para organizar o fluxo no terminal. Nesta época de 2013, as embarcações que chegavam à Baía de Paranaguá demoravam mais de 30 dias para atracar e carregar no porto, lembra Luiz Henrique Dividino, superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa). Atualmente, segundo ele, o tempo de espera é de cerca de dez dias.
Fontes de Santos (SP) também acreditam na teoria de ganho de eficiência de Paranaguá neste ano, mas ressaltam que assim que o terminal der fim ao escoamento da soja, o porto paulista voltará a ser o primeiro no ranking. Os técnicos negam que o Santos tenha ficado praticamente sem milho. Afirmam que há divergência entre os números locais e os do governo e inclusive que São Paulo continua embarcando volume maior que o Paraná.
Preferência
Estados que normalmente exportam milho via Santos, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, preferiram embarcar o grão em Paranaguá nos últimos meses. Das 203 mil toneladas do cereal exportadas pelos mato-grossenses, 113 mil deixaram o país pelo litoral paranaense e somente 5 mil toneladas foram direcionadas a Santos. Em julho do ano passado, foram 154 mil toneladas enviadas ao porto de São Paulo e somente 47 mil toneladas para o Paraná.
No acumulado do ano, porém, Santos ainda tem vantagem. As exportações do estado do Centro-Oeste pelo corredor Sudeste somam 1,1 milhão de toneladas e 344 mil toneladas para o do Sul. A reviravolta de julho seria um indicativo de que a eficiência é que determina a escolha dos exportadores por um ou outro porto.
Goiás decidiu direcionar suas exportações de milho a Paranaguá, ao contrário do que fez em 2013. O estado já embarcou pelo porto paranaense cerca de 130 mil toneladas do cereal, contra 100 mil toneladas no mesmo período do ano passado. Com isso, os embarques de Santos, que somaram 344 mil toneladas em 2013 caíram a 46 mil toneladas em 2014.
Preços baixos dão vantagem ao Brasil diante dos Estados Unidos
Cálculos da Informa Ecnomics FNP mostram que o milho brasileiro está mais competitivo no mercado internacional. “O cereal dos Estados Unidos está custando entre US$ 220 e US$ 225 por tonelada posto no Golfo. Já o do Brasil sai de US$ 200 a US$ 210 por tonelada, incluindo os prêmios atuais”, afirma Aedson Pereira, analista de mercado da empresa. As contações no mercado interno brasileiro estão abaixo dos preços mínimos afixados pelo governo.
A diferença tem feito os norte-americanos perderem ritmo de vendas (de 4,8 milhões em junho para 4,5 milhões em julho). No Brasil, a temporada de exportações 2014 mal começou, passando de 88 mil para 592 mil toneladas. O setor espera embarcar entre 10 milhões e 15 milhões de toneladas nos próximos seis meses. Ainda existe chance de o país passar de 20 milhões de toneladas, considerando os 5,9 milhões acumulados até agora, aponta Pereira.