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Começa colheita da 1a safra brasileira de milho transgênico

Variedade é estimulada pelas facilidades operacionais do cultivo, pelo ganho de produtividade e pela redução de custos.

Redação (20/03/2009) – A fazenda Tarumã, no município de Jóia, a 440 quilômetros de Porto Alegre, faz hoje a primeira colheita oficial no Brasil do milho transgênico resistente ao ataque de lagartas (Bt) desenvolvido pela Monsanto, liberado definitivamente para plantio no país em 2008. A lavoura ainda é experimental e ocupa uma área de apenas 3,5 hectares onde foram plantados cinco híbridos geneticamente modificados e 27 convencionais para comparação do desempenho de cada um, mas o entusiasmo dos produtores sinaliza uma forte expansão do uso da tecnologia nos próximos anos.

Estimulado pelas facilidades operacionais do cultivo, pelo ganho de produtividade e pela redução de custos, o produtor João Domingos, dono da Tarumã, já pretende plantar 90% da área de 540 hectares que será destinada ao milho na safra 2009/10 com variedades transgênicas. De acordo com ele, livres dos danos provocados pelas lagartas os novos híbridos devem apresentar rendimento de 6% a 9% maior do que os convencionais, enquanto os custos de produção foram 4% menores, graças basicamente à redução na aplicação de inseticidas.

"Vou colher até uma tonelada a mais por hectare com o milho Bt, o que significa R$ 300 a mais por hectare", disse o produtor. Domingos plantou 450 hectares – 100% irrigados – com variedades convencionais nesta safra, com rendimento de 11 toneladas (183 sacas) por hectare, o equivalente a quase 3,5 vezes a produtividade média prevista para o Estado pela Emater-RS e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), entre 3,1 e 3,3 toneladas por hectare. O custo total de produção ficou em 121 sacas por hectare.

 
O diretor da consultoria Céleres, Anderson Galvão, estima que o plantio de milho Bt no Brasil no ciclo 2008/09 alcançou 1,4 milhão de hectares. O Rio Grande do Sul é o terceiro Estado no ranking, com 198 mil hectares, atrás do Paraná (350 mil hectares) e Mato Grosso (248 mil hectares). A projeção foi feita com base na disponibilidade de sementes e para 2009/10 a previsão é de um aumento de 100% na área com a entrada das variedades já liberadas da Dow AgroScience, Syngenta e Bayer, explicou.

"Os testes demonstraram que a tecnologia veio para ficar porque é eficiente no controle da lagarta, o que reflete na qualidade do grão", disse o presidente do Clube Amigos da Terra (CAT), de Tupanciretã, município vizinho a Jóia, Almir Rebelo. Na opinião dele, em no máximo cinco anos 90% das lavouras de milho do Rio Grande do Sul, que nesta safra totalizaram 1,4 milhão de hectares, conforme a Conab, deverão ser transgênicas, aproximando-se do índice verificado nas plantações de soja do Estado.

Conforme Galvão, a redução do uso de inseticida nas lavouras de milho transgênico proporciona ainda benefícios ambientais e mais segurança para quem trabalha no campo. O ganho econômico por hectare pode chegar a 18%, conforme simulação feita no Paraná, por conta de um aumento médio de 6,8% na produtividade e da queda de 4,4% nos custos. "Na medida em que houver maior disponibilidade de sementes a migração para os transgênicos vai ser significativa", disse o diretor da Céleres.

Na fazenda Tarumã, o milho Bt recebeu apenas uma aplicação preventiva do defensivo, contra três nas variedades convencionais, com uma economia de R$ 90 por hectare, explicou Domingos. Segundo ele, a redução de gastos compensa o preço 25% a 30% mais alto das sementes transgênicas em comparação com as convencionais e é particularmente importante em épocas de preços baixos. Hoje o valor médio da saca no Estado é de R$ 17,24, segundo a Emater-RS, ante um custo de R$ 23,39, conforme a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro).

Cláudio Doro, engenheiro agrônomo da Emater-RS, calcula que 6,7% da área de milho no país (de 14,3 milhões de hectares, segundo a Conab) foram plantadas com sementes transgências nesta safra. A estimativa fica um pouco abaixo da projeção feita pela Céleres, mas ele também acredita que a área deve dobrar no próximo ciclo graças à maior disponibilidade de sementes. De acordo com ele, em experimentos feitos em Passo Fundo a produtividade do milho Bt ficou até 14% mais alta do que a das variedades convencionais.