A comercialização do milho está travada no Rio Grande do Sul por causa da queda nos preços pagos ao produtor. Na região administrativa da Emater em Passo Fundo, no norte do Estado, que abrange 70 municípios, quase 90% da safra foi colhida, conta o assistente técnico do órgão, Cláudio Dóro, mas nem 25% da produção foi negociada. Na mesma época do ano passado, 33% da safra de milho tinha sido vendida. Em todo o Estado, a colheita chegou esta semana a 57% da área semeada (1,309 milhão de hectares), ante uma média de 51% nesta época do ano, considerando as últimas cinco safras.
O fraco ritmo de venda dificulta o esvaziamento dos armazéns, que deveriam ter maior folga para receber a safra de soja, cuja colheita chegou a 26% da área (3,727 milhões de hectares) nesta semana. Os negócios realizados com milho foram motivados pelo cumprimento de contratos feitos há mais tempo, cita Dóro. O trigo vive situação semelhante e o produtor segura o cereal à espera de melhor preço. “Hoje o milho e trigo viraram moeda podre”, diz Dóro. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizou na quinta-feira (09) leilão de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) de trigo, o que ajuda a amenizar um pouco o problema, explica o gerente de negócios da Cooperativa de Plantio Direto (Cooplantio), Marcelo Faria Faria, pois negocia parte do cereal armazenado.
A Cooplantio negociou trigo estocado em Pelotas, ao sul do Estado, o que resultará na retirada de aproximadamente 15 mil toneladas de seu armazém, abrindo espaço para receber soja ou arroz. Nas regiões em que os armazéns estão mais cheios, é visível um aumento de custo do frete, pois há necessidade de liberar espaço e poucos caminhões disponíveis. Em geral, os caminhoneiros atendem antes a colheita no Centro-Oeste e depois seguem para o Rio Grande do Sul, onde o pico de safra ocorre mais tarde, lembra Faria. Por isso, o frete está 20% acima do teto do mercado. Se nesta época custava o máximo de R$ 60/62 por tonelada, está em R$ 70/75, compara ele.
A pressão pode aumentar nos próximos dias, já que a colheita de soja irá atingir seu pico na metade de abril, lembra Dóro. O ritmo aumentou rapidamente na última semana, passando de 9% para 26% da área cultivada, segundo levantamento da Emater. Apesar do avanço nos últimos dias, a colheita está atrasada em comparação à média desta época, que é de 38% da área. A soja foi o único grão que teve o preço valorizado nesta semana. O produtor recebeu, em média, R$ 44,34 pela saca de 60 quilos, numa alta de 3,16% em relação à anterior.
A cotação média da saca de 60 quilos de milho para o produtor ficou em R$ 16,71, com recuo de 0,48% em comparação à anterior, segundo pesquisa da Emater. O valor representa queda de 34% em relação ao ano passado. O trigo permaneceu no mesmo valor, de R$ 24,22/saca, nesta semana, ante R$ 35,14 em abril do ano passado.