Os preços da maior parte das commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior perderam sustentação em outubro, de acordo com cálculos do Valor Data com base nas médias mensais dos contratos de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) comprados e vendidos nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão). A exceção foi o açúcar, que registrou leve valorização.
Denominador comum a todos os mercados, o recrudescimento das preocupações em torno da saúde da economia global por conta das debilidades europeias, da claudicante recuperação americana e da desaceleração chinesa, teve efeito negativo sobre as cotações – tanto por causa dos temores sobre o futuro da demanda quanto por movimentos mais cautelosos dos investimentos especulativos. E as notícias ligadas aos chamados fundamentos de oferta e demanda de cada cadeia também foram, em geral, baixistas.
Entre os grãos, que têm forte impacto sobre os índices inflacionários globais por serem básicos para a alimentação humana e para a produção de rações, o destaque em Chicago foi a soja, que fechou o mês com baixa de 8,11% em relação a setembro, quando o preço médio foi o maior da história em termos nominais. Levada à estratosfera pela quebra nos EUA neste ciclo 2012/13, em virtude de uma severa estiagem que fará o país perder o posto de maior produtor e exportador do mundo para o Brasil, a oleaginosa “desinchou” com a evolução da colheita naquele país (ainda que menor) e também já passou a refletir as projeções de safra recorde na América do Sul, onde o plantio está em curso.
Se não ajuda os produtores brasileiros, a retração das cotações também não atrapalha, uma vez que quase metade da colheita que começará a ganhar força em janeiro foi vendida antecipadamente a preços que certamente garantirão gordas margens de lucro. Mesmo com a queda, o preço médio do mês passado em Chicago foi 33,56% superior ao de dezembro e 25,90% maior que o de outubro de 2011. De acordo com estimativas do Ministério da Agricultura, com isso o valor bruto da produção brasileira de soja (“da porteira para dentro”), carro-chefe do agronegócio no país, chegará a R$ 67,2 bilhões em 2012, 16,4% acima de 2011 e um novo recorde.
O milho seguiu mais ou menos a mesma trilha. Mas, levando-se em consideração que seu preço médio em Chicago já havia caído em setembro depois do pico histórico de agosto – foram mais de 100 milhões de toneladas a menos que o previsto nos EUA com a seca -, o recuo em outubro foi menor (1,90%). Em relação à média de dezembro, o valor ainda foi 22,99% superior e a alta sobre outubro do ano passado ficou em 16,60%. Para soja e milho, a tendência é de acomodação das cotações nos próximos meses, ainda que a possibilidade de repiques até o fim deste ano não possa ser totalmente descartada em consequência da produção americana mais magra.
O trigo continua a oscilar como um satélite do milho, já que também serve à alimentação humana e pode ser usado em rações. Em outubro, o preço médio dos contratos de segunda posição do cereal recuou 1,56%, mas as valorizações em relação a dezembro e a outubro do ano passado ainda foram de 41,31% e 32,85%, respectivamente. No dia 24, a Ucrânia, que também sofre com a seca, havia anunciado a suspensão de suas exportações e a equação que forma os preços do produto ganhou novo fator de suporte. Porém, ontem o vice-ministro da Agricultura do país voltou atrás e disse que a interrupção não vai acontecer. Mas o fato é que o quadro global de oferta e demanda da commodity é mais confortável que o da soja e do milho.
Na bolsa de Nova York, a “soft” commodity que registrou maior queda foi o suco de laranja (8,40%), cuja demanda global permanece retraída por questões estruturais e depende de choques na oferta para se manter valorizado. A expectativa de que a temporada de furacões nos EUA pudesse prejudicar os pomares da Flórida – que reúne o segundo maior parque citrícola do planeta, atrás de São Paulo – ofereceu alguma sustentação nos últimos dois meses, mas como nem o Sandy provocou estragos à produção, as cotações tiveram forte queda. Na comparação com a média de dezembro, a baixa atingiu 32,63%, a maior entre as commodities agrícolas do mercado nova-iorquino.
No café, outubro foi mais um mês de queda influenciada pela colheita no Brasil, maior produtor e exportador do mundo. Com o recuo de 2,69%, as baixas da commodity em relação às médias de dezembro e setembro de 2011 já alcançaram 25,18% e 28,36%, respectivamente.
Cacau e algodão, que sempre sofrem mais que os grãos em tempos de incertezas na economia, recuaram 6,04% e 1,79% em outubro em relação a setembro. No caso do cacau, a melhora das condições climáticas na Costa do Marfim, maior produtor e exportador da amêndoa, e uma demanda pouco firme na Europa também colaboraram para a baixa. No algodão, a oferta global também está mais folgada, o que segue a deteriorar as cotações. O preço médio do mês passado foi 26,74% menor que o de outubro de 2011.
Para o açúcar, a exceção “altista” do mês, pesou a redução da moagem de cana na região Centro-Sul do Brasil na segunda quinzena de setembro. Assim, a commodity encerrou o mês com preço médio 0,54% superior ao de setembro, mas ainda 11,73% menor que a de dezembro e 20,39% inferior a de outubro do ano passado.
Soja lidera as quedas na BM&F
Outubro também foi um mês de queda quase general para as commodities agropecuárias negociadas na BM&FBovespa. Conforme cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, a soja liderou as baixas em relação às médias de setembro, com uma variação negativa de 7,10%, seguida por etanol (3,43%), café arábica (2,60%), boi gordo (1,77%). Só o milho subiu (2,69%).
Em linha com o comportamento das cotações na bolsa de Chicago (ver matéria acima), a soja alcançou sua maior média mensal em agosto, por conta da quebra da safra americana, castigada pela mais severa estiagem naquele país em mais de 50 anos. Mesmo assim, a média do mês passado foi 22,83% superior a de dezembro e 17,12% maior do que a de outubro de 2011.
O milho se mostrou menos afinado com as oscilações da bolsa dos EUA e subiu ainda por conta dos reflexos externos e da boa demanda. Assim, a valorização sobre dezembro chegou a 24,74% e em relação a outubro do ano passado, a 4,9%. Uma das diferenças em relação aos fatores que guiaram as cotações em Chicago é que a segunda safra (safrinha) da temporada 2011/12 no Brasil foi recorde, puxada pelo forte crescimento no Estado de Mato Grosso.
O volume é tão grande que as exportações do cereal no ciclo 2011/12 estão estimadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 17,5 milhões de toneladas, quase o dobro do volume embarcado na safra 2010/11 e um novo recorde histórico. E, nunca é demais lembrar, grande parte dessas exportações aproveitou as fortes altas dos preços internacionais em meados do ano, impulsionados pela mesma quebra da safra americana que elevou a demanda pelo produto brasileiro.
Outra commodity que, como a soja, andou em linha com as oscilações das bolsas dos Estados Unidos – nesse caso, com a bolsa de Nova York – foi o café, que, pressionado pelo andamento da colheita, fechou outubro com cotação média 2,6% inferior na BM&FBovespa. Em relação à média de dezembro, a baixa já chega a 27,54%; sobre outubro do ano passado, atingiu 31,30%.
Confirmando que o ciclo é mesmo positivo para as margens de lucro dos frigoríficos de carne bovina – que, em geral, preveem que a situação deverá permanecer assim inclusive ao longo do ano que vem -, em boa medida devido à oferta confortável, o preço médio do boi gordo recuou 1,77% em outubro, deixando como saldo uma alta de 0,99% na comparação com dezembro e uma queda de 8,91% sobre outubro de 2011, segundo o Valor Data.
Com mais uma queda em outubro, o etanol passou a registrar retração de 16,51% na comparação com a média de dezembro e baixa de 18,24% sobre outubro de 2011. E, como já analisou o Valor, nem a queda de preços tem sido suficiente para uma recuperação contundente do consumo no biocombustível no mercado doméstico, que passou a sofrer com uma espécie de “crise de confiança” por parte dos motoristas dos veículos flex fuel.