Apesar das altas observadas ontem, quando foram anunciadas ações coordenadas de diversos bancos centrais contra a crise no mundo desenvolvido, sobretudo na Europa, quase todas as principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior fecharam novembro com preços médios menores que os de outubro.
Conforme levantamento do Valor Data baseado nos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) dos produtos transacionados nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão), o suco foi a exceção. Na comparação com as cotações médias de dezembro e de novembro de 2010, apenas café, suco e milho ainda têm variações positivas.
A maior parte das previsões convergiu nas últimas semanas para um cenário menos positivo para os preços das commodities agrícolas no que resta de 2011 e em 2012, mas as altas de ontem – de açúcar, café, soja e milho -, derivadas de uma maior otimismo em relação à saúde da economia global que derrubou o dólar e impulsionou ações de empresas, mais uma vez comprovaram que a única certeza é que a volatilidade vai continuar.
“Diante das turbulências financeiras, vivemos [em novembro] um refluxo do capital financeiro especulativo [nos mercados de commodities agrícolas] e isso está afetando os preços. Mas a crise envolve 20% do mercado consumidor global, localizado em países onde o consumo de alimentos é relativamente inelástico. Os demais 80% estão em países que continuam crescendo. Nesse contexto, não acredito que haverá redução”, diz Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja.
No caso dos principais grãos, básicos para a alimentação humana e animal e com maior influência sobre os índices inflacionários, Sartori lembra que qualquer problema provocado pelo fenômeno climático La Niña na América do Sul, que atualmente semeia a safra 2011/12, poderá atrair novamente os grandes fundos e provocar novas valorizações.
Fabio Silveira, economista da RC Consultores, com sedes no Rio e em São Paulo, considera que processos de recuperação de recessões, como os países desenvolvidos terão de encarar, normalmente exigem preços decrescentes, e que a tendência é de queda das cotações internacionais das commodities, e, com isso, da inflação global.
Análise divulgada pelo Barclays Capital, em Londres, concorda que os fundamentos são positivos para os grãos, que ainda apresentam estoques mundiais baixos. Mas, consideradas as médias de novembro calculadas pelo Valor Data, as estimativas do banco para o quarto trimestre como um todo apontam melhora, também em média, só para café e algodão.
Levando-se em conta apenas os fechamentos de ontem em Chicago e Nova York, o Barclay’s, que não fez previsões para o suco, estima que as demais commodities que fazem parte do levantamento terão preços médios estáveis ou maiores no quarto trimestre, menos o trigo. Ou seja: é possível concluir que, para o Barclay’s Capital, o mês terminou com viés de alta.
Entre as médias de novembro, a do açúcar liderou as baixas em relação às de outubro. Com a queda de 6,04%, aumentaram as desvalorizações na comparação com as médias de dezembro (14,49%) e de novembro de 2010 (9,09%). Afora o fluxo dos fundos de investimentos, uma maior definição em torno da próxima safra brasileira de cana guiará o mercado em dezembro.
Das commodities analisadas, a única que tem ganhos nas três comparações é o suco de laranja: 4,12%, 5,56% e 9,29%, respectivamente. É verdade que, apesar de suas gordas safras atuais de laranja, os estoques do produto estão em seus mais baixos níveis tanto no Brasil quanto nos EUA, os dois maiores produtores. Mas alguns analistas veem nessa sustentação a ação de especuladores no mercado, conhecido por depender de poucos investidores de peso.
Entre os três principais grãos, soja e trigo já aparecem com retrações generalizadas. No caso da oleaginosa, a baixa em relação à média de outubro foi de 3,81%, o que ampliou as perdas na comparação com dezembro para 11,3% e levou a queda sobre novembro de 2010 a 6,66%. No trigo, as retrações ficaram em 4,09%, 19,7% e 11,02%, respectivamente.
O milho, por sua vez, fechou novembro com cotação média 1,23% inferior à de outubro, mas ainda acumula ganhos de 6,64% sobre dezembro e de 12,42% na comparação com novembro de 2010.