Da Redação 01/08/2005 – As cotações internacionais de algumas das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior voltaram a navegar ao sabor de oscilações climáticas em julho, estimulando uma volatilidade propícia aos movimentos de fundos de investimentos e especuladores.
Como já havia ocorrido em junho, os grãos (soja e milho, principalmente) negociados na bolsa de Chicago mantiveram relação umbilical com previsões meteorológicas para regiões produtoras do Meio-Oeste dos Estados Unidos. O mesmo ocorreu com o suco de laranja transacionado na bolsa de Nova York, onde o café também esteve par e passo com o humor de São Pedro, só que desta feita envolvendo áreas produtoras do Brasil.
Cálculos do Valor Data baseados no preço médio dos contratos de segunda posição de entrega mostram que a maior variação observada no mês passado foi exatamente a do café, que caiu 9,32% em relação a junho mas manteve forte valorização no intervalo dos últimos doze meses (45,76%).
Muitas das previsões de frio em fronteiras brasileiras não se confirmaram com a intensidade esperada pelos traders nova-iorquinos, deixando para a gangorra das cotações o resultado negativo para produtores e exportadores do país.
“Apesar dos movimentos de vendas dos fundos durante julho, os fundamentos continuam altistas para o produto nos próximos meses, puxados pelo déficit mundial do grão”, observou Alexandre Mourani, da Ágora Senior. Rodrigo Costa, da Fimat Futures, acrescentou que a demanda por café é fraca em julho por conta do verão nos países do Hemisfério Norte.
As cotações do açúcar também tiveram uma forte influência dos fundos em julho, mas os preços da commodity se acomodaram em patamares mais altos por conta da maior demanda internacional. No mês, fechou em alta de 6,88% em relação a junho e aumento de 12,39% nos últimos 12 meses.
No caso do suco de laranja, a expectativa de danos à citricultura da Flórida causados pela passagem de furacões ou tempestades tropicais (a “Franklin” concentrou atenções na semana passada) foi a responsável pela instabilidade dos preços, e aqui a variação em relação a junho também foi positiva (4,29%).
Para os exportadores brasileiros, contudo, a influência nova-iorquina é pequena, uma vez que o principal destino dos embarques é a Europa – onde, aliás, a tonelada do produto do Brasil subiu de US$ 800 para US$ 1.000 recentemente.
O mercado de algodão ficou à ventura das notícias de oferta e demanda mundial, com os analistas de olho na safra americana. No mês, os preços tiveram ligeira elevação de 2,54%. Nos últimos doze meses, a valorização foi de 10,69%.
Sem mudanças importantes ligadas aos fundamentos do mercado e com as safras dos países africanos já comercializadas, as cotações do cacau andaram de lado durante boa parte do mês de julho, com maior influência dos especuladores, sobretudo nos últimos dias, de acordo com Thomas Hartmann, da TH Consultoria. No mês, as cotações tiveram recuo de 3,65% sobre junho e, nos últimos doze meses , queda de 5,42%.
Em Chicago, foi novamente rico o manancial para os especuladores no mês passado, ao contrário do que sugere a pequena variação negativa do preço médio da soja na comparação com junho (0,59%). E a influência da forte volatilidade sobre o ritmo da comercialização do que resta da safra 2004/05 do Brasil não foi nada desprezível.
Analistas ouvidos pelo Valor ao longo de julho reiteraram em diversas oportunidades que as vendas brasileiras acompanharam a gangorra de Chicago, com aceleração da comercialização na alta e produtores arredios nos dias de baixa. Antonio Sartori, da Brasoja, já cansou de dizer que não adianta esperar a dispersão dos efeitos climáticos sobre as cotações antes de 10 de agosto.
Apesar da relativa estabilidade do mês passado, as cotações acumulam alta de 28,23% em 2005, e por isso a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) reviu de US$ 8,005 bilhões para US$ 8,628 bilhões, em levantamento divulgado na última sexta-feira, sua estimativa para a receita das exportações do complexo soja do país neste ano. Em 2004, foram US$ 10,048 bilhões.
Não foi muito diferente o comportamento do mercado de milho, ainda que para o grão o saldo do mês tenha sido uma variação positiva de 6,41% em relação a junho. De qualquer forma, neste caso os reflexos no Brasil ecoaram mais distantes, já que as atenções por aqui estão voltadas para a oferta doméstica e para os reflexos do câmbio sobre as – necessárias – importações desde a Argentina.
De um modo geral, o trigo não teve forças para resistir à ação de fundos e especuladores nos mercados de soja e milho e em grande parte das sessões em Chicago suas cotações acompanharam as curvas dos “primos” com maior liquidez. A cotação média de julho foi 2,74% superior a de junho. “Há projeções de queda de produtividade de trigo nos EUA”, disse Flávia Moura, da Fimat, destacando que as oscilações de preços estão limitadas porque os fundos estão com posições vendidas.