Da Redação 22/06/2005 – A recuperação das cotações internacionais da soja nas últimas semanas, embalada pelo clima adverso às lavouras em algumas áreas do Meio-Oeste americano, acelerou o até então letárgico ritmo de comercialização da safra brasileira, que agora começa a caminhar para a reta final.
Ainda que com números divergentes, este avanço no Brasil foi constatado pelas principais consultorias e corretoras que acompanham o mercado. Nas contas da Tetras Corretora, por exemplo, com a recente disparada 57% da produção da safra 2004/05 já foi comercializada, ante percentual de 45% a 47% há 30 dias. Em meados de junho de 2004, segundo a empresa, 67,7% da safra 2003/04 havia sido vendida, nível médio também dos ciclos anteriores.
Renato Sayeg, da Tetras, afirma que a recuperação das cotações internacionais deflagrou um movimento que teria de acontecer de qualquer forma antes de setembro, quando começa a chegar ao mercado externo a produção da safra 2005/06 dos EUA, que está em fase final de plantio. “Não fosse o câmbio desfavorável às exportações, o percentual brasileiro poderia estar mais próximo da média”.
Daniel Dias, do Instituto FNP, destaca que a comercialização avançou também em virtude da necessidade de venda por parte do produtor, que precisa começar a comprar insumos para o plantio da safra 2005/06. “O produtor se deu conta de que o governo não vai fazer muito mais do que já fez”, disse, referindo-se às medidas anunciadas para a renegociação de dívidas.
Pelas estimativas de Dias, a comercialização da safra está em cerca de 80%, 10 pontos percentuais a mais que na semana passada. Em igual período de 2004, disse, o nível estava em 90%. O ritmo do ano passado era mais acelerado, afirmou, porque a soja havia alcançado preços recordes.
Daniel Dias afirmou que as altas verificadas em Chicago por conta das preocupações com o clima não foram repassadas em sua totalidade para o preço da soja brasileira, que registra até prêmio negativo em Paranaguá. Em 1 de junho, o prêmio era de 11 pontos para o contrato de agosto. Na segunda-feira, ficou em 20 pontos negativos para o mesmo contrato. “Isso mostra que há necessidade de venda e que a sobreoferta de soja no mercado mundial é grande”, disse.
A aceleração da comercialização também aparece no balanço de registros de exportação da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). De 31 de maio a 15 de junho, os registros, no caso do grão, somaram 2,294 milhões de toneladas, ante 485 mil de igual intervalo de 2004. No caso do farelo, foram 831 mil toneladas a mais, e no do óleo, 161 mil. Conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), os registros do complexo como um todo ainda estão atrasados em relação a 2004, mas já adiantados na comparação com os anos anteriores.
Em tempo: ontem, em Chicago, os contratos do grão com vencimento em agosto (que atualmente ocupam a segunda posição de entrega na bolsa) fecharam em queda de 5,50 centavos de dólar por bushel (0,74%), após uma sequência de fortes valorizações. Em junho, os ganhos acumulados chegam a 8,44%; em 2005, a 35,04%, segundo cálculos do Valor Data.