A produção brasileira de grãos dificilmente alcançará nesta safra 2013/14 a marca de 200 milhões de toneladas, aguardada pelo governo para fortalecer a campanha de reeleição da presidente Dilma e possibilidade considerada por consultorias privadas e empresas do setor nos últimos meses.
Conforme apurou o Valor, as primeiras projeções para a segunda safra de milho e a falta de chuvas em alguma regiões levaram a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a ajustar sua estimativa para a colheita total para 193,6 milhões de toneladas, ante as 196,7 milhões previstas em janeiro. Mesmo assim, o volume previsto é 5,2% superior ao recorde de 2012/13.
No novo relatório que será divulgado na manhã de hoje, a Conab passou a estimar a colheita de soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, em 90 milhões de toneladas, ante as 90,3 milhões projetadas em janeiro e as 81,5 milhões de 2012/13. Já a produção total de milho (primeira e segunda safras) foi ajustada para 75,4 milhões de toneladas, ante as quase 79 milhões previstas em janeiro e as 81 milhões do ciclo anterior.
Essa queda do milho reflete uma maior inclinação dos produtores para o plantio de algodão na segunda safra, sobretudo em Mato Grosso. Conforme a Conab, a colheita de algodão em caroço deverá chegar a 4,1 milhões de toneladas, mesmo patamar projetado em janeiro e volume cerca de 24% superior ao de 2012/13. Já a produção de arroz deverá chegar a 12,5 milhões de toneladas, ante as 12,35 milhões estimadas no mês passado e as 11,75 milhões da temporada passada.
Se a escassez hídrica que hoje afeta Triângulo Mineiro, sul de Goiás, São Paulo e “Mapito” (área de Cerrado na confluência dos Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins) não resultar em uma colheita menor de soja que a esperada (ver abaixo), o Brasil deverá liderar a produção global do grão em 2013/14 pela primeira vez, à frente dos Estados Unidos.
Em relatório divulgado ontem, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) passou a prever a produção brasileira também em 90 milhões de toneladas, 1 milhão a mais que o projetado em janeiro e volume 10% superior ao de 2012/13, que representou um novo recorde. O órgão manteve sua estimativa para a colheita americana, que já está definida, em 89,51 milhões de toneladas, 8,4% mais que em 2012/13.
Nas exportações, a supremacia brasileira ganhará força se as estimativas do órgão americano não frustrarem o mercado: serão 45 milhões de toneladas em 2013/14, 7,4% mais que em 2012/13, contra 41,1 milhões dos EUA, volume 14,5% maior em igual comparação.
Ainda que, por enquanto, tenha ignorado o recrudescimento das intempéries no Brasil, o USDA já cortou suas projeções para produção e exportação de soja em grão na Argentina em parte por esse motivo. O órgão passou a prever para o vizinho colheita de 54 milhões de toneladas, 500 mil a menos que o previsto em janeiro, e embarques de 8 milhões de toneladas, uma queda de 1,7 milhão. Nos dois casos, há incrementos em relação a 2012/13.
As projeções do USDA para a China, maior país importador de soja em grão do mundo, não sofreram alterações. O país asiático deverá produzir 12,2 milhões de toneladas em 2013/14, ante 13,05 milhões em 2012/13, e importar 69 milhões de toneladas, quase 10 milhões a mais.
Como resultado desses ajustes principais efetuados, o USDA passou a prever uma produção global de soja de 287,69 milhões de toneladas, volume 7,2% superior ao de 2012/13, demanda total de 269,34 milhões de toneladas, 4,2% maior que a do ciclo anterior, e estoques mundiais finais de 73,01 milhões quase 25% mais gordos na mesma comparação.
No tabuleiro do milho, certamente o Brasil está perdendo espaço nesta temporada 2013/14. No relatório de oferta e demanda que publicou ontem, o USDA, que projeta uma segunda safra bem mais fraca no país, manteve a projeção para a colheita total em 70 milhões de toneladas, ante as 81 milhões de 2013/14. E o volume global está em franca expansão.
Conforme o órgão americano, a produção mundial do cereal chegará a 966,63 milhões de toneladas no ciclo atual, mesmo patamar projetado em janeiro e volume 12% superior ao da temporada anterior. Graças à recomposição da oferta no Hemisfério Norte depois da seca que derrubou a colheita em 2012/13, os estoques finais globais tendem a atingir 157,3 milhões de toneladas em 2013/14 – quase 3 milhões a menos que o previsto em janeiro, mas 17,4% acima da safra passada.
As exportações brasileiras de milho na atual temporada, por sua vez, continuaram estimadas pelo USDA em 20 milhões de toneladas, 5 milhões a menos que o recorde alcançado em 2012/13.
Na bolsa de Chicago, os novos números do USDA para os grãos não causaram grande surpresa e, portanto, não provocaram oscilações expressivas de preços. Os contratos futuros da soja para maio fecharam a US$ 13,1225 por bushel, em baixa de 5,25 centavos de dólar, ao passa que no milho o mesmo vencimento caiu 1,25 centavo, para US$ 4,4875 por bushel.