O cultivo da chamada “soja safrinha” – além do excesso de chuvas em algumas regiões – colocou em risco o desempenho da próxima safra de verão, especialmente em Mato Grosso. A avaliação está no relatório de acompanhamento da safra de grãos, divulgado nesta quinta-feira (7/8) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Estimativas variam entre um cultivo de 100 a 200 mil hectares de segunda safra de soja apenas em Mato Grosso. A prática é criticada por agrônomos e pesquisadores, por favorecer a manutenção de esporos de doenças como a ferrugem asiática, além de não praticas a rotação de culturas.
De acordo com a Conab, “a incidência do cultivo de soja safrinha induziu a uma forte presença de doenças e culminou com a aplicação acima do normal de fungicidas. Isso ocorreu porque houve migração da doença da soja primeira safra para a soja segunda safra”.
Ainda segundo a Companhia, uma piora no rendimento da safra de soja de Mato Grosso, maior produtor nacional, pode ter efeito na receita das exportações do agronegócio. “É importante resaltar que, após a safra 2002/2003, quando ocorreu o surgimento da ferrugem asiática no Mato Grosso, a produtividade do estado tem permanecido estagnada, com média de 3011 kg/ha nas últimas 12 safras.”
Nesta quarta-feira, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) informou ter aprovado uma nota técnica a respeito do cultivo de soja safrinha. No comunicado, a entidade afirma ter ouvido e debatido o assunto com instituições de pesquisa como a Embrapa e a Fundação Mato Grosso.
A nota da entidade alerta sobre os riscos da prática, mas “define o posicionamento sobre como fazer o plantio consecutivo de soja”. Destaca a importância do acompanhamento profissional e do cumprimento de regras, como o próprio vazio sanitário. No entanto, delega ao produtor a responsabilidade pela decisão.
Embora sejam feitos sucessivos alertas, ainda não há um consenso sobre uma eventual proibição por lei do plantio de soja sobre soja. Um dos argumentos é o de que ainda não há dados conclusivos sobre os efeitos da prática na lavoura. A Embrapa Soja tem conduzido pesquisas em Mato Grosso e no Paraná, onde também vem sendo registrada a segunda safra de soja. Mas, segundo os representantes da instituição, os resultados devem estar consolidados no mínimo daqui a três safras.
Oficialmente, a posição do Ministério da Agricultura é a de que práticas como o cultivo de soja safrinha “infringe” o Manejo Integrado de Pragas, como disse recentemente a Globo Rural o diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Luis Eduardo Rangel.
“Visando o equilíbrio sanitário e a sustentabilidade das culturas em função das ocorrências de pragas resistentes é possível haver restrições e aplicação de políticas de manejo regional com incentivos fiscais, financiamentos, zoneamento agrícola ou mesmo, em ultimo caso, restrição de cultivos com proibição em função de lei”, alertou.
Por enquanto, a principal ação do governo está concentrada no vazio sanitário. Nesta semana, o ministro da Agricultura, Neri Geller, reafirmou que ele será ampliado no Brasil para inibir o cultivo de soja sobre soja. No entanto, disse apenas que o assunto ainda está “em discussão” e não há uma previsão de quando a medida deve ser publicada.