Redação (16/01/2009)- Em pouco mais de um mês a cotação do milho no mercado interno subiu quase 20%. A saca de 60 quilos do grão, que já foi negociada a menos de R$ 11 em Mato Grosso, vale agora mais de R$ 13 no estado. O Indicador ESALQ/BM&F Bovespa aponta alta superior a 13% só em janeiro, com a saca cotada a um preço médio de R$ 24,24.
Essa súbita valorização, iniciada em dezembro, foi impulsionada pelas compras dos criadores de aves e suínos, que até então mantinham os estoques em níveis muito baixos, apostando em uma desvalorização ainda maior que aquela que vigorava até o mês de novembro. "O setor foi pressionado por uma oferta interna limitada, já que os traders voltaram a exportar", analisa o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Lucílio Alves.
Esse novo cenário no lado da oferta foi configurado pelos consideráveis embarques de milho registrados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) no último mês de 2008 – quase 1,4 milhões de toneladas, 21% do volume exportado durante todo o ano. De acordo com os registros dos principais portos do País, cerca de 600 mil toneladas do cereal já ganharam o mercado externo em 2009 antes mesmo do fim da primeira quinzena de janeiro. "Essa alavancada nas exportações mudou o ânimo do mercado", afirma Alves.
De acordo com informações da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), as empresas estão fechando contrato para embarcar o milho em fevereiro a US$ 170 a tonelada. A cotação, segundo o diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes, não garante competitividade ao cereal brasileiro, ainda assim ele aposta em um maior volume embarcado este ano em relação a 2008.
A expectativa do representante do setor é respaldada pela análise de Lucílio Alves. O pesquisador argumenta que a Argentina, que detém a segunda maior fatia do mercado internacional de milho, vai exportar 50% menos de acordo com estimativas governamentais. O que significa que faltarão pelo menos 7,5 milhões de toneladas aos compradores externos, "isso abre caminho para uma retomada das exportações brasileiras, afinal alguém tem que atender o mercado mundial", avalia.
Aliada à alta das exportações aparece a quebra da safra de verão já consumada pela seca que assola a região Sul. A redução de 12% na produção em relação à safra anterior apontada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai ser maior. Levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná afirma que no estado, maior produtor, a perda vai ser superior a 30%, índice que se repete também nas lavouras gaúchas.
A safrinha também está vulnerável a quebras. A valorização no mercado interno deve garantir a mesma área plantada no Paraná, mas não a produtividade, esta vai ficar sujeita aos índices pluviométricos abaixo do ideal projetados pelos institutos meteorológicos. Já no Mato Grosso, não têm preço que evite a redução de área. Ainda em 2008 o Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola já previa queda superior a 20% em virtude da descapitalização do setor produtivo.
Essas quebras vão resultar em uma oferta total de milho inferior a 50 milhões de toneladas, acredita Odacir Klein, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). "No ano passado consumimos 54 milhões de toneladas", afirma Klein. O expressivo estoque de passagem, segundo a Conab de 13 milhões de toneladas, entraria em cena para garantir o abastecimento interno, ainda sujeito a variação.
Lucílio Alves informa que em 2008 o mercado brasileiro consumiu 10% mais milho que no ano anterior. "Em 2009 essa taxa de crescimento será menor, mas não haverá uma reversão", projeta o pesquisador. Essa pressão da demanda é reforçada pelos programas de apoio à comercialização praticados pela Conab. Para o presidente da Abramilho, esses instrumentos do governo federal também foram decisivos para a retomada dos preços do milho no mercado interno, além de garantir remuneração ao produtor.