Um forte movimento especulativo de realização de lucros derivado de projeções menos catastrofistas para os reflexos negativos das atuais baixas temperaturas na Flórida sobre os pomares de laranja do Estado derrubou as cotações do suco ontem (11/01) na bolsa de Nova York.
Os contratos com vencimento em maio, que assumiram a segunda posição de entrega naquele mercado (normalmente a de maior liquidez) caiu expressivos 1.895 pontos, ou quase 13%, e fechou a US$ 1,3545 por libra-peso. Março, que até sexta-feira ocupava a segunda posição, recuou 1.930 pontos, para US$ 1,3185. Por causa do frio da Flórida, março chegou a atingir US$ 1,5115 na semana passada, maior patamar observado desde o fim de 2007.
Conforme a agência Reuters, o Florida Citrus Mutual, principal associação de produtores de laranja do Estado americano, confirmou ontem a ocorrência de danos, mas a confirmação da intensidade desses danos ainda poderá demorar semanas. Estima-se que as perdas possam chegar 10%, mas ainda é difícil precisar, sobretudo porque há sinais contraditórios para o comportamento do clima na Flórida nas próximas semanas.
Independentemente disso, os estoques de suco nos Estados Unidos ainda se encontram em patamares confortáveis, conforme o Florida Citrus Mutual, apesar de uma queda nos últimos meses em virtude de promoções de vendas no varejo americano.
A última estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a produção de laranja na Flórida em 2009/10 sinalizou 135 milhões de caixas de 40,8 quilos, o segundo menor volume desta década. Pelo menos até agora, é uma queda muito mais atrelada a problemas climáticos anteriores e à disseminação de doenças como o greening e o cancro cítrico do que propriamente relacionado ao frio atual, como já informou o Valor.
Ainda assim, a persistência de riscos climáticos na Flórida – “os produtores estão colhendo gelo, não laranja”, como disse ontem um analista à Reuters – e a possibilidade de problemas em São Paulo nos próximos meses abrem espaço para novas valorizações dos preços, hoje aproximadamente 70% superiores ao mesmo período do ano passado.
São Paulo reúne o maior parque citrícola do mundo, enquanto a Flórida aparece na segunda colocação no mesmo ranking. Maurício Mendes, presidente da AgraFNP no Brasil e membro do Grupo de Consultores em Citrus (GConsi), prevê a produção paulista em cerca de 300 milhões de caixas em 2009/10, uma redução em torno de 15% sobre 2008/09.
Mendes explicou ao Valor que as chuvas na época da florada da safra paulista, nos meses de agosto e setembro de 2009, são as causas do encolhimento estimado. Mas Mendes ressalvou que ainda é cedo para prognósticos mais consistentes sobre perdas.