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Crédito escasso acentua a concentração na soja

<p>A rentabilidade positiva que já se projeta para a produção de soja na safra 2008/09 não tem sido motivo de comemoração generalizada no mercado.</p>

Redação (10/07/2008)- Em virtude das dificuldades de financiamento para a compra de insumos, muitos produtores deverão ficar fora do mercado, abrindo mão do plantio em favor de produtores de maior porte, com mais poder de fogo.

O movimento de concentração da produção de soja nas mãos de um número menor de produtores repete o fenômeno observado na safra 2005/06. É o mesmo movimento, mas por motivos distintos. Naquele ciclo, produtores de menor porte abriram mão de suas áreas – com arrendamento ou mesmo venda de terras – porque os custos estavam superiores ao rendimento obtido com o grão.

No Mato Grosso, para a safra 2008/09, espera-se rentabilidade média de pelo menos US$ 200 por hectare – a média no Estado na safra 2007/08 ficou entre US$ 100 e US$ 200. "O produtor vai esperar até a última hora para ver se consegue alternativa para plantar, mas a situação está difícil", afirma Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja).

O Estado tem cerca de 6 mil produtores de soja – a conta exclui a agricultura familiar. Nos últimos três anos, mais de 10% dos produtores simplesmente saíram do mercado, segundo a Aprosoja. A situação é particularmente forte no oeste do Mato Grosso. Em Campos de Júlio, por exemplo, havia 140 produtores há três anos. Hoje, são 86.

São duas as razões principais para a aceleração da concentração do plantio nas mãos de menos produtores, diz André Pessôa, diretor da Agroconsult. A primeira é a redução do crédito para a compra de insumos ofertado pelas tradings. Com a alta do preço internacional da soja, as tradings tiveram que direcionar mais recursos para cobrir margens de suas operações de hedge na bolsa de Chicago.

Como não têm dinheiro para bancar os gastos com insumos, os produtores têm ficado com receio de não conseguir comprá-los. "No ano passado, o produtor gastou US$ 600 por hectare para ganhar algo entre US$ 100 e US$ 200. Agora, o custo está em US$ 950, e a rentabilidade deve ser parecida. É um risco muito grande", diz Pessôa.

A situação é mais preocupante no Mato Grosso porque, no Estado, cerca de 90% do financiamento é feito pelas tradings. Segundo a Aprosoja, até agora apenas 3% da soja da safra 2008/09 já foi vendida. Na mesma época de 2007, o volume já havia atingido 60%.

Ainda há soja disponível para comercialização no Mato Grosso da safra 2007/08, mas o volume, de pouco mais de 1 milhão de toneladas, representa menos de 8% da produção total. Com isso, o preço da saca de soja em Sorriso (MT), que, nesta época de 2007, equivalia a 70% do preço praticado em Paranaguá (PR), já está próximo de 80%, de acordo com Eduardo Godoi, analista da Agência Rural.

Os produtores que ainda têm soja para vender teriam potencial para financiar seu próprio plantio, mas mesmo essa possibilidade é limitada. "Os mesmos produtores que têm soja agora também venderam quase tudo antecipadamente", diz Pessôa. "Falta dinheiro no sistema".