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Cresce a disputa por soja não-transgênica

<p>A compra de soja não-transgênica ficará mais difícil nesta safra 2006/07.</p>

Redação (28/09/06)- A decisão dos produtores brasileiros de elevar a área cultivada com sementes geneticamente modificadas já está levando indústrias a pagar uma bonificação para garantir uma oferta suficiente de grãos convencionais para atender à demanda de seus clientes no exterior.

A Caramuru Alimentos começou neste ano a pagar aos agricultores prêmio de US$ 0,50 por saca de soja convencional, como forma de estimular o plantio do grão, que tem custo de produção mais alto que o da soja transgênica. “A indústria tem que indicar ao produtor que há benefícios em se plantar a soja convencional”, diz Cesar Borges de Sousa, presidente da empresa.

Ele diz que a Caramuru ainda não decidiu se adotará o uso de transgênicos para a produção de industrializados de soja. “Os prêmios no exterior têm de aumentar para que a indústria também se sinta estimulada a manter uma produção 100% convencional”. A companhia já trabalhou só com soja convencional, mas hoje utiliza esse tipo de grão apenas na produção de itens industrializados, destinados principalmente ao mercado europeu. “Não garantimos produto não-OGM para itens que não oferecem prêmios, como a soja em grão, por exemplo”, diz Borges.

Neste ano, a Caramuru originou 460 mil toneladas de farelo de soja não-transgênico, e a meta é chegar a 500 mil em 2007. Para isso, fez parceria com produtores de Goiás e outros Estados para garantir a oferta.

A Solae Company, joint-venture entre as americanas DuPont e Bunge, elevou os prêmios aos produtores gaúchos para garantir oferta de soja não-transgênica. Na safra passada, a empresa pagava bônus de 8% sobre o preço da saca vendida no mercado, e agora remuneração extra fixa de R$ 2,40 por saca. Geovane Consul, diretor de manufatura da Solae, afirma que o programa tem atraído o interesse de produtores de todo o Estado e de cooperativas.

Consul afirma que 70% da produção da Solae é feita com grãos convencionais, e 30% com transgênicos. A idéia é repetir esse numero na safra 2006/07. “A empresa compra os dois tipos de soja, de acordo com a demanda dos clientes”, diz.

Antonio Iafelice, presidente mundial da Agrenco, o mercado de soja não-transgênica tende a recuar no mundo. Ele observa que a produção em menor escala aumenta o custo de produção e segregação. “Com preço mais alto e oferta menor, muitos vão descobrir que a soja transgênica não é tão danosa a saúde quanto se temia”, observa. A tendência, segundo Iafelice, é que o mercado não-OGM se torne cada vez mais restrito e os prêmios pagos por esse tipo de grão suba.

Ele observou que EUA e Canada cobram US$ 25 por tonelada de soja convencional. No Brasil, esses prêmios ficam em torno de US$ 8. “Talvez o prêmio suba para US$ 12 ou US$ 14, dependendo da oferta disponível”. Segundo Iafelice, a Agrenco já fechou parceria com produtores para garantir uma oferta de 1,5 milhão de toneladas de soja convencional na próxima safra, mesmo volume do ciclo 2005/06.

A Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais (Braspov, que representa as indústrias de sementes) estima que o plantio de soja transgênica no país na safra 2006/07 devera representar pelo menos 60% do total, ante 42% na temporada passada.

Apesar do menor volume de soja convencional disponível, as certificadoras que atestam a qualidade do produto têm demanda crescente por seus serviços, pelas exigências cada vez mais rigorosas dos importadores. Tais exigências são crescentes também para a chamada “soja sustentável” , o que levou a Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) e a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) a anunciarem, ontem, a criação de uma organização não-governamental para debater aspectos ligados à sustentabilidade.

Oferta incerta de produto sustentável
Mais recente, outro mercado que tem potencial de crescimento, mas cuja oferta ainda é incerta é o da chamada “soja sustentável”. O produto, que pode ser convencional ou transgênico, deve ser proveniente de propriedades onde não há desmatamento, não pode ser originado em áreas de grilagem ou proteção ambiental para ser certificado como sustentável. Outros requisitos são a não-utilização de trabalho infantil ou trabalho escravo e o controle rigoroso do uso de agroquímicos, etc. A rastreabilidade do grão, desde a propriedade até o destino, é outra exigência.

Antonio Carlos Caio da Silva, presidente da TÜV Rheinland Brasil, que certifica soja com o selo GrünPass, avalia que 5% a 6% da produção brasileira de grãos – estimada em cerca de 120 milhões de toneladas – poderiam ser certificadas como sustentável nos próximos dois anos.

Hoje, a demanda para a soja cultivada de forma sustentável está concentrada principalmente em países europeus como Suíça, Noruega, Alemanha, Suécia e Dinamarca. Ainda é difícil medir o tamanho desse mercado, afirma Silva, mas o executivo estima que não haja soja rastreada e certificada em volume suficiente para atender aos clientes europeus.

A Imcopa, por exemplo, esmagadora paranaense que utiliza a certificação ProTerra para assegurar a produção de forma sustentável, já tem pedido de clientes europeus para todas as 2,4 milhões de toneladas de soja que processa por ano para a fabricação de farelo para. Um sinal de que existe procura.

Mas Jochen Koester, diretor da Imcopa Europa, observa que há no Brasil um grande volume de soja que poderia ser certificada como sustentável, já que boa parte da produção está em áreas que atendem critérios ambientais e sociais. Ele concorda que é muito cedo para estimar o tamanho da demanda para a esse produto, já que o conceito de soja “responsável” é muito recente – foi criado em 2004.

Apesar das dificuldades de mensurar esse novo nicho de mercado, Silva, da TÜV Rheinland Brasil, diz que a meta da empresa é certificar 2 milhões de toneladas de soja sustentável entre este ano e 2009.