Da Redação 06/06/2003 – Há cinco anos esmagar soja no Brasil não é tão lucrativo quanto está sendo em 2003. No acumulado de janeiro a maio, as processadoras do grão que atuam no país conseguiram seu melhor desempenho operacional no período desde 1998. Alguns fatores favoreceram a performance: os bons preços dos subprodutos – com destaque para o óleo -, a compra antecipada do grão e o câmbio ainda favorável às exportações.
De acordo com levantamento da consultoria Céleres/MPrado, a margem operacional média (sem incluir custos financeiros e administrativos) das esmagadoras de soja foi, em média, de 11,3% nos últimos cinco meses. É mais que as margens de 9% e 9,5% registradas em igual intervalo de 2002 e 2001, respectivamente, e bastante acima do desempenho observado entre janeiro e maio de 2000, quando as margens ficaram em 5,6%. Na época, o setor sofria com a tendência de queda dos preços da soja no mercado internacional. A margem atual só é superada pelos 13,5% de 1998.
“A sustentação dos preços do óleo de soja tem contribuído para o bom desempenho das empresas”, avalia Anderson Galvão, da Céleres. Favorecidos pela queda global da oferta de girassol, canola e outras oleaginosas, além do aumento da demanda mundial, principalmente asiática, os preços médios do óleo de soja ficaram em 21,36 centavos de dólar por libra-peso de janeiro a maio na bolsa de Chicago, uma alta de 30,16% em relação ao mesmo período de 2002. A valorização é superior ao ganho de 28,16% nos preços do grão e de 14,64% no caso do farelo.
Com essa conjuntura, a participação do óleo na receita das empresas aumentou. Em maio desse ano, o subproduto respondeu por 40% do faturamento, ante 33,6% em maio de 2002 e 27,4% na média do mês nos últimos cinco anos (incluindo maio de 2003), conforme a Céleres. “O óleo de soja teve uma valorização real, que está se sustentando”, concorda Carlos Artico, diretor administrativo da esmagadora paulista Granol.
Além de se beneficiar dos altos preços de venda dos subprodutos, as esmagadoras também ganharam na ponta da compra graças à estratégia de fechamento antecipado de contratos. Em um momento em que a saca de soja valia entre R$ 30 e R$ 35 no mercado brasileiro, as indústrias esmagavam grãos pelos quais haviam pago entre R$ 20 e R$ 25 por saca em meados de 2002. No Mato Grosso, a comercialização antecipada chegou a representar 60% da safra 2002/03. “A compra antecipada contribuiu para uma margem operacional superior em março”, reconhece Carlos Artico, citando o mês de melhor desempenho do ano até o momento: 16,6% de margem de lucro.
As esmagadoras sabem, contudo, que boas novas na colheita – tradicionalmente o período de melhor margem do ano graças à abundância de matéria-prima – não são garantia de um final de ano feliz. E o primeiro alerta já apareceu: a margem cedeu de 10% em abril para 7% em maio.
“O produtor parou de vender durante a safra”, afirma José Cícero Aderaldo, gerente comercial de grãos da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá (Cocamar). Por isso a queda das margens, diz. “Essa é uma história antiga. O produtor sempre acha que vai conseguir preços melhores lá na frente”, observa César Borges, vice-presidente da Caramuru Alimentos. E esse ano o agricultor está capitalizado e não pretende vender tão cedo. Fonte de uma grande indústria diz que existe até incerteza se haverá soja suficiente para manter o ritmo das fábricas.