O anúncio russo ocorre após distúrbios em Moçambique causarem sete mortes. A FAO, agência da ONU para alimentos e agricultura, convocou um encontro de emergência.
O tumulto em Maputo, onde 280 pessoas ficaram feridas, veio após decisão do governo de elevar o preço do pão em 30%. Milhares de pessoas protestaram contra o aumento, queimando pneus e saqueando depósitos de alimentos, e a polícia atirou nos manifestantes.
Apesar de autoridades e traders do setor agrícola insistirem em dizer que o trigo e demais suprimentos agrícolas estão mais abundantes que em 2007 e 2008, as autoridades temem que distúrbios como os de Moçambique se espalhem.
A escassez de estoques de alimentos de 2007 e 2008, a mais grave em 30 anos, deflagrou distúrbios em vários países e ajudou a precipitar a queda de governos.
O comunicado russo estendeu a proibição, anunciada pela primeira vez no mês passado, até o fim de dezembro de 2011. Isso levou os preços do trigo e de outros cereais ao mais alto nível em dois anos.
A FAO disse que “a preocupação quanto a uma possível repetição da crise dos alimentos de 2007-2008” resultou num “enorme número” de consultas de países-membros. “O propósito de realizar esse encontro é engajar os países exportadores e importadores.”
A Rússia costuma ser o quarta maior exportadora mundial de trigo, e a proibição da exportação já obrigou importadores no Oriente Médio e no Norte da África, os maiores compradores, a buscar provisões na Europa e nos EUA.
“Isso é extremamente grave”, disse Abdolreza Abbassian, da FAO, em Roma. “Dois anos seguidos sem exportações russas criam uma enorme perturbação.” Para Dan Manternach, especialista em grãos no Doane Agricultural Services, de St Louis, isso põe em dúvida a confiabilidade na Rússia.
Jakkie Cilliers, diretor do Institute of Security Studies da África do Sul, disse que reina apreensão quanto a uma repetição dos protestos de 2008. “Isso certamente fortaleceu o retorno dos militares à política na África”, afirmou.
Os preços do trigo subiram quase 70% desde janeiro, e analistas preveem mais altas com a decisão russa e o temor de danos climáticos à safra da Austrália.