Redação (21/03/06)- Com a forte queda de arrecadação de tributos e impostos devido ao impacto na economia da brusca redução de rentabilidade no cultivo da soja neste ano, pelo menos 13 municípios do Mato Grosso já anunciaram a decretação de situação de emergência, e o Estado planeja medida semelhante.
“O governador (Blairo Maggi) tem dito que, se a queda de arrecadação continuar nesse ritmo, o Estado vai ficar ingovernável no segundo semestre de 2006,” disse Walmir dos Santos, vice-prefeito de Primavera do Leste, uma das cidades que já decretou situação de emergência.
Santos, integrante de um dos partidos que apóia o governo, afirmou que está em andamento um processo para que o Estado faça o mesmo pedido.
“Temos a ferrugem (doença fúngica), o câmbio que tira a rentabilidade do produtor, temos o problema da logística,” lembrou ele, acrescentando que, com esses problemas, o setor agrícola no Estado está registrado prejuízo nesta temporada.
Além de Primavera, municípios como Poxoréu, Dom Aquino e Campo Verde já decretaram emergência. “Em Primavera, houve uma queda de arrecadação de 22 por cento em janeiro deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado.”
“Ninguém sabe o que vai sobrar no final. O governo está de cabelo em pé com a queda na arrecadação,” completou Ricardo Tomczyk, agricultor de Rondonópolis e advogado, que está juntando as informações que vão subsidiar um possível pedido de decretação de emergência pelo Estado.
De acordo com Tomczyk, que integrou a comitiva do governador que teve audiência em Brasília, na semana passada, com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), no mês de fevereiro a arrecadação estadual diminuiu em 40 milhões de reais em relação a janeiro.
“Um decreto de emergência tem dois aspectos. Um é a oficialização de uma crise. Numa demanda judicial, isso talvez tenha alguma influência. O outro… o setor público começa a não pagar suas contas com a União,” explicou Tomczyk, destacando que o Mato Grosso tem uma conta mensal com o governo federal de R$ 60 milhões.
A queda do dólar, que reduz os ganhos em reais do produtor, o aumento do custo de transporte da soja aos distantes portos exportadores e os gastos com a ferrugem corroeram a rentabilidade do setor, que em muitas propriedades se tornou negativa.
E há problemas com créditos adicionais. Segundo os produtores, alguns bancos, temendo riscos de aumento da inadimplência, têm colocado restrições ao financiamento da safrinha este ano no Estado.
“Na próxima safra poderemos ter uma redução de 30%, 40% na área, por falta de crédito,” afirmou o sojicultor de Primavera José Viana, que já nesta safra reduziu a sua área plantada de 12 mil para 10,5 mil hectares.
A área total da região de Primavera foi reduzida, na safra atual, de 660 mil para 600 mil hectares.
“A crise é mais grave que aquela que tivemos antes da securitização, na safra 1994/95, quando o dólar estava ainda mais baixo. Porque naquela época 90% da dívida estava com o Banco do Brasil. Agora 90 por cento das dívidas são com as empresas privadas, e aí é mais difícil negociar.”
Por outro lado, grandes produtores como Vilson José Vian acreditam que a crise poderá ser superada, com esforço de todos os envolvidos no problema. “Pra mim, o dia de hoje é muito simples: os meus parceiros (bancos, tradings e outras empresas) vão continuar me apoiando,” disse, lembrando que ele seria quase um gerente do negócio dessas empresas, com quem tem compromissos financeiros, e elas não o abandonariam.
O governo federal está preparando um pacote de auxílio ao setor agrícola, com várias medidas, inclusive no âmbito tributário, e embora alguns digam que dificilmente o plano alivie a situação no centro-oeste, outros acham que o fluxo de recursos em ano eleitoral pode dar algum respiro.
Para Rogério Kamphorst, gerente de clientes em Primavera da Kepler Weber, a maior empresa do setor de armazenagem do Brasil, historicamente em anos eleitorais o governo “começa a liberar mais dinheiro, e as vendas podem crescer.”
Segundo Kamphorst, a Kepler está com expectativa de registrar na região de Primavera uma estabilidade nas vendas em relação a 2005, ano em que registrou na área queda de 20% no faturamento, para US$ 11 milhões, na comparação com 2004, período considerado um dos melhores para o setor.
“Será um ano em que tradings e cooperativas terão de comprar armazéns para segurar a soja, por causa do preço. Além disso, é ano eleitoral. Por isso, eu não me assusto com a crise, prefiro ser mais otimista.”