Da Redação 29/03/2004 – 05h00 – Depois de um ano de trégua, devido ao clima quase perfeito que garantiu uma oferta equilibrada de grãos, o setor de aves e suínos volta a ser pressionado pela alta dos custos de produção. Fontes de integrações estimam que o impacto nos custos já está entre 5% e 10% após as recentes altas de milho e farelo de soja.
Os dois produtos, principais componentes da ração de aves e suínos, vêm registrando valorização desde o início deste mês, principalmente, por conta da perspectiva de menor oferta.
O clima derrubou a estimativa para a safra de soja no Brasil, que deve ficar em 51,5 milhões de toneladas, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No caso do milho, a grande dúvida é a safrinha, que será menor também por causa da estiagem no período de plantio, que levou produtores a desistirem de semear. A alta do milho no mercado externo também influencia.
No Paraná, um dos principais produtores de grãos do país, o milho acumulava, até sexta-feira, alta de 6% em relação à média de fevereiro, batendo R$ 18,05 por saca no mercado disponível, segundo o Deral – Departamento de Economia Rural, da Secretaria de Agricultura do Estado. Já o farelo de soja registrava alta de 15,7% no período, cotado a R$ 885 por tonelada.
A alta dos custos é uma dor de cabeça principalmente para os frigoríficos que atuam só no mercado interno. Já as margens de lucro dos frigoríficos exportadores não devem ser pressionadas, segundo analistas. O raciocínio é que o maior custo deve ser compensado, ao menos em parte, pela alta dos preços do frango no mercado internacional em decorrência da influenza aviária. O problema sanitário elevou a demanda pelo produto do Brasil, um dos únicos fornecedores mundiais de carne de frango que está livre da doença.
O diretor de suprimentos de uma grande integração afirma que a valorização do farelo e do milho já provoca um impacto de 10% nos custos. Na região em que atua, o milho subiu 10% em 30 dias e o farelo, 25%. Ele afirma que os produtores de milho estão retendo o grão na expectativa de novas altas já que a safrinha será menor. Os números indicam que a expectativa dos produtores procede. No Paraná, o maior Estado produtor de safrinha, a área deve cair para 1,181 milhão de hectares contra 1,370 milhão em 2003.
Outra fonte de suprimentos de um frigorífico exportador diz que as empresas que têm estoques sofrem menos com o aumento dos preços dos grãos. Elas ainda não incorporaram toda a alta do milho e do farelo, mas, pelos cálculos dessa fonte, o impacto nos custos deve ser de 5%.
Para Flávio Turra, da Ocepar (reúne cooperativas paranaenses), a disponibilidade de milho este ano vai depender novamente da safrinha. Com isso, as integrações poderão voltar a ter “os velhos problemas históricos”, ou seja, incerteza em relação à oferta e aos preços do produto.
As que não têm estoques já estão sofrendo tais problemas. Num momento em que há retenção por parte dos produtores, muitas delas estão correndo para comprar, diz Paulo Molinari, da Safras & Mercado.
Mas analistas do setor de alimentos acreditam que as margens de lucro das exportadoras devem seguir favoráveis mesmo com os custos maiores. No pior cenário, haveria manutenção. “O preço de exportação do frango está muito bom, o que deve compensar parte do aumento de custo”, afirma Basílio Ramalho, do Unibanco. Para ele, as margens tendem a ficar estáveis.
Christian Klotz, analista da Fama Investimentos, é mais otimista. Ele acredita que as margens dos frigoríficos exportadores devem ser maiores que em 2003. O motivo são os preços firmes do frango no mercado internacional, o que tende a se manter até o terceiro trimestre por conta da influenza aviária. Isso, considerando que o embargo a alguns países que registraram a doença deve durar pelo menos até o fim deste semestre. Só no primeiro bimestre deste ano, o preço médio do frango nas exportações brasileiras subiu 30%, para US$ 1.030 por tonelada, segundo a Abef.