Com custos de produção menores e pagamento de diferencial, a plantação de grãos convencionais se torna uma alternativa viável para aumentar o rendimento dos agricultores. As sementes geneticamente modificadas, ou transgênicas, como são conhecidas, ganharam espaço nas plantações por sua produtividade, mas o cenário está mudando ao passo que elas adquirem resistência aos defensivos agrícolas e não tem valorização no mercado. Para se ter uma ideia do mercado, a soja convencional tem sido comercializada com um preço diferencial de até R$ 4 por saca para União Europeia e alguns países asiáticos.
No Mato Grosso, a área plantada com soja transgênica na safra 2009/2010 chega a 52%, 10 pontos percentuais a mais que na safra 2008/2009. A área total plantada com soja geneticamente modificada soma 3,216 milhões de hectares. A produção do grão convencional passa a ser alvo de uma estratégia de mercado. A Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) firmou convênio com Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para o desenvolvimento de pesquisas de mais variedades da soja convencional.
O interesse está em tornar o país como um produtor alternativo de soja, já que os maiores produtores, como Estados Unidos e Argentina possuem suas plantações dominadas pelos transgênicos e dificilmente pode se reverter a situação. O gerente geral da Embrapa Mato Grosso, João Flávio Veloso Silva, conta que quando foram procurados pelos produtores, apresentaram a linha de pesquisa da empresa com soja convencional e que agora isso foi intensificado porque entende-se que este é interesse da região no momento. “Nossa linhas de pesquisas não envolvem questões filosóficas porque entendemos que há segmentos com diferentes interesses e temos que atender a todos. Seja transgênico, convencional ou orgânico”.
O presidente Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange), Ricardo Tatesuzi de Sousa, diz que a opção pelo convencional ou pelo transgênico está vinculado aos interesses do mercado internacional, porque no mercado interno não há diferenciação de preços. Mas é quanto aos custos e futuro comercial que Ricardo enfatiza a importância do investimento em convencional. “Em um país em que os custos são tão altos como no Brasil, que possui alta carga tributária, problemas de logística e ainda é suscetível ao câmbio, a maneira de concorrer com os outros produtores é colocar um opção extra e exclusiva no mercado”. Sousa explica que para o Estados Unidos a situação é complicada porque não há segregação e a produção se misturou.
O diretor da Aprosoja Brasil e Aprosoja Mato Grosso, Carlos Fávaro, compartilha da opinião do presidente da Abrange. Ele cita o próprio exemplo para apontar a mudança no comportamento do setor. “Eu sempre optei pela convencional na esperança de receber o diferencial. Na última safra (2009/2010), como precisava limpar meu campo contaminado pela erva daninha, plantei transgênico e deixei, pela primeira vez, de receber o prêmio de cerca de R$ 2 por saca”. O diretor do Centro Grãos, da Federação Mato-Grossense de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), João Birkhan, afirma, no entanto, que este prêmio nem sempre chega aos produtores rurais. Para Birkhan, entre 70% e 80% dos diferenciais pagos nos portos não são repassados ao agricultores e ficam para as indústrias esmagadoras.
Produtores – Clóvis Albuquerque, de Primavera do Leste, sempre plantou o grão convencional e diz que em sua região a opção ainda compensa, mas reconhece que em breve isso de mudar. “Há uma tendência pelo convencional em função dos royalties e dos herbicidas para convencionais que estão mais baratos e assim diminui os custos de produção”. Os custos de Albuquerque com a produção estão em torno de R$ 1,4 mil por hectare, porém, em virtude do mercado local, o transgênica tem mais aceitação pela esmagadoras.
Carlos Fávaro, da Aprosoja, ressalta porém, que o plantio do convencional ou do geneticamente modificado nem sempre é uma escolha do produtor. Segundo Fávaro, isso depende das condições locais. “Há regiões em que há infestações de ervas daninhas e que os herbicidas convencionais não são capazes de combater e a produtividade fica comprometida”. Já o produtor Marcelo Paludo, de Sapezal, tem o histórico oposto do agricultor de Primavera. A produção de Paludo é toda de soja convencional. “Para nós é melhor a soja não transgênica, apesar de investir um pouco mais em herbicida para combater as ervas daninhas, recebo de R$ 2 a R$ 3 como prêmio por saca”.
Royalties – A Aprosoja solicitou na Justiça explicações sobre a c cobrança de royalties pela Monsanto. A reivindicação da entidade é para que a multinacional explique o sistema de cobrança. Segundo Fávaro, a empresa cobra o royalties duas vezes, ao comprar a semente e sobre o excedente da produção. “É como se eu comprasse um carro com a tecnologia do air bag, pagasse por ele e, caso sofresse o acidente e o instrumento fosse utilizado eu tivesse que pagar novamente porque ele funcionou”.
Além disso, a Aprosoja quer explicações sobre o tempo de cobrança do royalties, sobre as formas de cobrança e emissão de notas fiscais. Os royalties cobrados hoje custam R$ 0,45 por quilo de semente e mais 2% do excedente da projeção de produção, ou seja, se a produtividade superar a estimativa, o produtor paga 2% do comercializado.
No caso do milho, como muitas empresas possuem a tecnologia do transgênico e não existe diferenciação de preços no mercado, não há problemas quanto à cobrança. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária estima que 40% da área plantada na safrinha 2009/2010 seja de milho geneticamente modificado.