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Soja

Custos de produção de soja aumentam e preocupam 70% dos produtores

Motivados pelo aumento do preço de insumos e defensivos agrícolas, os gastos com a produção da soja transgênica para a safra 2022/23 aumentaram quase 44,6%.

Custos de produção de soja aumentam e preocupam 70% dos produtores

O sojicultor brasileiro terá que gastar mais do que o esperado para instalar sua lavoura de soja para a safra 2022/23. O principal responsável por essa alta de custos de produção é o preço dos insumos agrícolas, especialmente de defensivos e fertilizantes. 

Graças a esse e outros fatores que também pressionam a alta de preços, os gastos com a produção de soja para a safra 2022/23 podem chegar a R$ 7 mil por hectare. 

Diante desse cenário, é fundamental que o produtor entenda o que causou esse aumento de custos de produção, como lidar com essa alta de preços e as projeções de mercado da próxima safra. 

Para isso, o primeiro passo é conhecer os produtos que impulsionaram o aumento dos gastos com a instalação da lavoura de soja.

Preço dos insumos aumentaram os custos de produção

A alta do preço da soja para safra 2002/23 pode ser explicada por um conjunto de fatores. Um deles é o preço dos defensivos agrícolas. 

Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os custos com defensivos utilizados na produção de soja aumentaram 44% em relação à última safra. 

No entanto, desse grupo de defensivos usados na produção da oleaginosa foram os herbicidas que apresentaram um aumento mais significativo. A alta desses insumos chegou a 275% comparada à safra passada. 

Além dos custos com defensivos, outros fatores contribuem para o aumento dos gastos com a produção da oleaginosa. Segundo o relatório de Custos de Produção, elaborado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), 

O investimento necessário para a compra de sementes de soja transgênica para o plantio de um hectare de terra, por exemplo, aumentou cerca de 68,6% em relação à última safra. 

O preço de fertilizantes e corretivos também apresentou uma alta ainda maior, exigindo que o sojicultor gaste quase 113,2% a mais para beneficiar apenas um hectare de terra.

Somando esses aumentos aos custos de oportunidade, como máquinas agrícolas, benfeitorias e capital circulante, os gastos na produção da soja transgênica aumentaram quase 44,6%. No caso do plantio da soja convencional, a alta foi semelhante, de aproximadamente 44,8%.

Cenário internacional influencia na alta de custo

De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os efeitos econômicos e políticos da guerra entre Rússia e Ucrânia deve continuar pressionando a alta no preço de fertilizantes e defensivos agrícolas nos próximos meses. 

Como resultado, os custos de produção das safras 2022/2023 devem continuar elevados. Graças a esse cenário, os preços mínimos da safra de verão da soja tiveram uma alta de até 107%. 

Como os grãos estão mais caros, as sementes também subiram de preço, influenciando no aumento dos custos de produção da oleaginosa. 

Além da Guerra na Ucrânia, os resquícios dos efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 também impactaram no cenário econômico mundial, resultando no ciclo de alta das commodities agrícolas. Para completar, a moeda brasileira ainda está desvalorizada.

Graças a esse cenário os sojicultores precisam gastar bem mais para plantar a lavoura. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, os produtores tiveram que gastar quase R$ 7 mil por hectare no plantio da soja para a safra 2022/23.

Aumento dos custos preocupa sojicultores

De acordo com o Guia da Soja, elaborado pela Climate Fieldview, esse cenário de alta de preços é uma das principais preocupações dos produtores brasileiros. Cerca de 70% dos sojicultores do país alegam estar preocupados com o aumento dos custos de produção.

Para Mauro Osaki, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), como o cenário não indica tendências de redução de preços nos próximos meses, não adianta apenas se preocupar, é importante agir. 

“Os valores corrigidos de fertilizantes nos últimos meses são os maiores dos últimos 20 anos. Isso realmente deixa o setor (agrícola) preocupado. Diante disso, cada produtor precisa usar uma estratégia diferente. 

Para o pesquisador, uma das alternativas para contornar o problema pode ser reduzir a quantidade fertilizantes aplicada em áreas já bem corrigidas e estabilizadas. 

Para isso, a aplicação deve ser feita de forma racional, usando tecnologia e conhecimento da área agronômica. Assim, é possível reduzir o impacto do preço dos fertilizantes na produção da safra 2022/23.

Além da otimização da aplicação dos fertilizantes, Cleiton Gauer, gestor técnico do Imea, lembra que registrar e controlar os custos de produção, acompanhar as relações de troca e ter um suporte técnico para a lavoura é essencial para que o sojicultor consiga lidar com essa alta de preços.

“Acompanhar com seu profissional, seja técnico agrícola ou engenheiro agrônomo, como está o seu banco de solo e, principalmente, otimizar esses recursos para não se colocar em risco ou não exceder o nível de risco, especialmente nesse momento em que qualquer erro pode deixar o produtor numa posição bastante complicada”, complementa Cleiton.

Impactos da alta de preços para o sojicultor

Diante de um ambiente de custos mais elevados e safra mais cara, a expectativa é que o preço da saca de soja aumente significativamente. De acordo com a Conab, o preço mínimo do saco de 60 kg da oleaginosa era de R$ 55,55 na safra de verão de 2022. 

Porém, para a próxima safra, esse valor aumentou para R$ 96,71, o que representa uma alta de 77,24%.

Mesmo com esse aumento, o sojicultor pode ser obrigado a reduzir sua margem de lucro para fechar as contas, já que os custos de produção estão elevados.

 Para Cleiton Gauer, embora a expectativa de margem de lucro para a próxima safra ainda seja positiva, a rentabilidade do produtor deve diminuir.

“Essa margem tende a ser menor em relação ao ano passado. No ano passado, essa margem foi bastante positiva porque o produtor acabou aproveitando um momento bastante propício, com preços e custos mais baixos, e conseguiu comercializar soja durante o movimento crescente do mercado. Já esse ano, o cenário está diferente. Ele acaba comercializando um produto por um preço muito mais elevado e ainda com uma incerteza muito grande sobre o mercado”, explica Cleiton.

Apesar disso, Mauro Osaki lembra que o sojicultor que conseguir fazer uma boa colheita 2021/22, terá uma margem maior para trabalhar a safra 2022/23, já que a relação de troca continua favorável.

“O problema é que pode ser que o produtor não tenha caixa para cobrir os custos de produção da próxima safra. Então, ele tem que antecipar a venda da próxima temporada para o plantio da safra. Com isso, o produtor fica mais ‘amarrado’ a uma variação de preços positiva para o produtor, reduzindo a possibilidade dele aumentar sua margem de lucro”, explica Osaki.

Tecnologia é chave para evitar prejuízos

Apesar da alta de custos de produção e redução da margem de lucro do sojicultor, especialistas afirmam que o investimento na produção de soja ainda compensa. 

Segundo a Conab, a expectativa é que a produção brasileira de grãos atinja 312,4 milhões de toneladas na safra 2022/23. Quase metade desse valor, 152,4 milhões de toneladas, são referentes apenas à produção de soja. 

Além disso, a estimativa é que 95,87 milhões de toneladas desse grão sejam destinados à exportação, o que representa um aumento de 22,5% em relação ao ano passado. 

Esses números também refletem o investimento dos sojicultores em tecnologia, responsável por maximizar a produção agrícola. 

Por isso, tecnologias associadas à Agricultura de Precisão e Agricultura Digital ainda são a melhor saída para que o sojicultor proteja sua margem de lucro dos efeitos negativos da alta de preços de insumos agrícolas.