Depois de a China ditar o ritmo no mercado de commodities, principalmente em razão do seu apetite por soja ao longo da última temporada, agora, na safra 2009/2010, será a vez da Índia apontar os rumos do comércio agrícola mundial. Além da explosão dos preços do açúcar, que já subiram 92% este ano, a Índia deve alavancar a demanda por óleo de soja e arroz.
As importações de óleo por parte da Índia, o maior comprador do produto no mercado internacional depois da China, deverão permanecer próximas de sua maior alta dos últimos 15 anos. De acordo com a Associação dos Extratores de Solventes, a elevação é efeito da concorrência com produtos estrangeiros mais baratos, o que torna pouco lucrativo o processamento da soja e do amendoim locais. As processadoras de soja estão operando suas unidades de produção a cerca de 50% de sua capacidade. “As compras de óleos de cozinha por parte da Índia, entre os quais o de palma, deverão ultrapassar 2 milhões de toneladas no período de três meses a encerrar-se em 31 de janeiro, comparativamente aos 2,1 milhões de toneladas do trimestre anterior”, diz B.V. Mehta, diretor-executivo da associação.
As importações de óleos vegetais dispararam para seu maior volume desde 2004, quando o governo indiano pôs fim às tarifas incidentes sobre os óleos de palma e de soja, deprimindo os preços internos e forçando as usinas a desacelerar o processamento das lavouras semeadas durante as chuvas de monção. O aumento das vendas ajudou a alimentar a alta de 37% registrada pelo preço do óleo de palma este ano. “As pessoas não estão operando plenamente suas unidades de produção porque não há lucratividade operacional”, disse Rajesh Agrawal, porta-voz da Associação dos Processadores de Soja da Índia. “Ou os preços das sementes têm de baixar ou os preços do óleo e do farelo precisam subir para tornar o processamento lucrativo”, avaliou. O preço do óleo de palma saltou para sua maior alta de 11 semanas, puxado pela previsão de um aumento das compras por parte da Índia. Os contratos futuros para entrega em janeiro subiram até 3,1%, para US$ 695 a tonelada, seu patamar mais alto desde 28 de agosto.
Balizadora das cotações de açúcar durante todo o ano de 2009 a nova atitude da Índia já começa a influenciar o mercado da commodity novamente, desta vez puxando os preços para baixo. De acordo com avaliação da Archer Consulting, com o mercado de açúcar na Bolsa de Nova York tendo fechado a semana com alta inferior US$ 10 por tonelada, é possível observar, mais claramente, que a diferença de preços entre o março de 2010 e o março de 2011 se manteve em torno de 330 pontos, ou seja, os preços apontam para uma baixa de US$ 73 por tonelada para a safra 2011/2012 em comparação com a 2010/2011. No período seguinte, a diferença entre o março de 2011 e o março 2012 é de nova baixa de US$ 62 por tonelada. “Em resumo, a percepção do mercado, levando em conta os fatores de recuperação da Índia já para a 2010/2011 – que para eles inicia-se em outubro do ano que vem – é de queda nos preços em US$ 135 por tonelada em dois anos. Ainda assim, com retorno de 27% sobre o custo de produção previsto”, analisa Arnaldo Luiz Corrêa, gestor de riscos da Archer.
Segundo Corrêa, se por um lado as perspectivas de importação continuam variando entre sete e nove milhões de toneladas, volume considerado elevado, por outro, os indianos têm mais tempo para comprar e assim deixam o mercado spot (a vista) mais ou menos largado. “Agora, é esperar para ver, já que na última sexta-feira, a Organização Internacional do Açúcar afirmou que o déficit mundial é de 7,2 milhões de toneladas comparado com os 8,4 milhões anteriormente divulgados. Daqui para frente, muita coisa pode mudar no cenário de altas do açúcar que tivemos até aqui”, finaliza o gestor da Archer.
Até mesmo o mercado de arroz deve sofrer forte influência da Índia. O País cuja previsão inicial era de exportações da ordem de 4 milhões de toneladas deverá entrar agora no mercado internacional buscando adquirir cerca de 3 milhões de toneladas. A reversão no equilíbrio entre a oferta e demanda de arroz na Índia é atribuída à uma forte estiagem que atingiu o país este ano.