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Demanda da China não ditará os preços mundiais da soja

<p>No mês de setembro deste ano, o país mais que dobrou suas importações da oleaginosa.</p>

Redação (17/10/2008)-  Em meio ao pânico persistente nos mercados mundiais, agentes contam com o bom desempenho dos mercados emergentes, especialmente da China, para vislumbrar um cenário menos sombrio. Mas, para alguns economistas, nem a China conseguirá conter a fúria da crise. Será o nível de gravidade da recessão americana que ditará os preços das commodities.

"O que se discute agora é se a recessão será de menos 1 ou menos 2. No pior dos cenários, os preços da soja, que já estão abaixo do nível pré-especulativo, pode voltar aos níveis históricos de US$ 6", diz Fábio Silveira, da RC Consultores. Ontem, a cotação da commodity encerrou o pregão na Bolsa de Chicago (CBOT) em US$ 8,8025 por bushel.

No mês de setembro deste ano, a China mais que dobrou suas importações de soja. O país vinha de uma compra de 1,8 milhões de toneladas e, elevou esse volume para 4,14 milhões de toneladas. "Em condições normais, essa compra muito alta da China teria afetados os preços na Bolsa de Chicago (CBOT) para cima", diz Glauco Monte, consultor de gerenciamento de risco da FCStone. Assim, o que aconteceu foi justamente o contrário. No mesmo mês em que a China bateu recorde de importação de soja, as cotações dessa commodity em na bolsa americana recuaram 17%.

Ontem, a agência BloombergNews, noticiou que o governo chinês iria comprar 1 milhão de toneladas da nova safra de soja do nordeste da China, a principal região de cultivo, no próximo mês para ajudar a recuperação dos preços no mercado interno, que caíram 15% no último mês. A agência acrescentou ainda que essa decisão da China ajudaria a aquecer o mercado mundial de soja, uma vez que a China é a maior importadora mundial com metade do comércio global de soja.

"Está todo mundo se agarrando na China para se salvar. Mas isso não vai acontecer. A China pode comprar toda a soja do mundo que o cenário não se altera. O que esse país está fazendo é impedir que os preços caiam ainda mais", avalia Silveira. Para ele, o que é mais assustador é a velocidade em que as coisas estão acontecendo. "O mercado, os agentes, os investidores, todos estão, de fato, vendo uma recessão muito forte", complementa.

Além disso, os fundamentos também não ajudarão a ampliar a demanda chinesa pelo grãos no próximo ano. Segundo o Centro Nacional de Grãos e Óleos da China, a produção da oleaginosa na China será 37% maior nesta safra com colheita esperada de 17,5 milhões de toneladas, em decorrência do aumento da área cultivada. Essa oferta interna maior deve resultar em menor importação do grão, de acordo com estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). As compras chinesas devem atingir 36 milhões de toneladas no ano-safra iniciado no último dia 1 de outubro, 1,4% menos que no ano-safra anterior.

Demanda
A persistente demanda forte da China por soja, segundo analistas, se deve a um cenário muito favorável para aquisição da commodity. Além de o preço estar muito baixo, também houve queda nas cotações do frete marítimo, segundo Monte, da FCSTone. "O preço dos fretes marítimos caíram 75% nos últimos três meses. Isso facilita muito para os importadores chineses", explica o especialista da FCStone.

Vinícius Ito, da consultoria New Edge, lembra que nesta semana a China voltou a comprar mais soja dos Estados Unidos. "O governo deve estar formando estoques, tanto de soja como de óleo. As esmagadoras do país também devem estar comprando para estocar", afirma Ito.

Nos primeiros nove meses do ano, a China importou 28,7 milhões de toneladas, 32,3% a mais do que no mesmo período de 2007. Atualmente, a China representa 52% de tudo o que o Brasil exporta de soja em grão. Neste ano, a previsão brasileira é de embarcar 26 milhões de toneladas da commodity. "A maior parte das compras feitas até setembro pela China foi do Brasil e da Argentina. A oferta americana entra forte a partir deste mês", esclarece Monte, da FCStone.