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Insumos

Despenca o transporte de grãos nas hidrovias

O caos no regime de chuvas fez despencar o transporte de grãos em duas das maiores hidrovias do país

Despenca o transporte de grãos nas hidrovias

O caos no regime de chuvas fez despencar o transporte de grãos em duas das maiores hidrovias do país. De janeiro a junho, a movimentação de soja pelos corredores fluviais caiu 38%, enquanto as cargas de milho tiveram redução de 18%. As perdas no setor têm como pano de fundo problemas aparentemente contraditórios: a forte estiagem na região Sudeste, que inviabiliza o uso da hidrovia Tietê-Paraná, e a cheia histórica no rio Madeira no início deste ano. Com embarcações impossibilitadas de navegar, foram necessários pelo menos 20 mil caminhões bitrens adicionais para escoar a produção agrícola, aumentando os custos logísticos e prejudicando a já combalida eficiência no caminho até os portos.

As dificuldades vividas no transporte hidroviário são evidentes há vários meses, mas números recém-compilados pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) dimensionaram com precisão o tamanho da crise. O cenário que mais preocupa é da Tietê-Paraná. “Não vemos com otimismo a possibilidade de termos a hidrovia até a volta da temporada de chuvas”, disse o gerente de desenvolvimento e regulação de navegação interior da Antaq, José Renato Fialho. Para preservar mais água nos reservatórios, a vazão foi reduzida em rios federais, diminuindo o calado. “O setor elétrico não abre mão da geração. Temos conversado com a ANA [Agência Nacional de Águas], mas ainda sem sucesso.”

Nos trechos São Simão-Pederneiras e São Simão-Anhembi, ambos no Estado de São Paulo, nem um grão sequer de milho foi transportado pelo rio Tietê neste ano. Quando a safra chegou, o corredor fluvial já estava praticamente paralisado. No caso da soja, houve redução superior a 50%, dependendo do trecho. “Desde o início do ano, as embarcações tiveram restrições. De abril para maio, pararam completamente de trafegar.”

No caso do rio Madeira, a operação do terminal da Cargill em Porto Velho foi interrompida por dois meses, por causa do alagamento de suas instalações. A força da água fez com o fluxo de cargas ficasse prejudicada quase três meses. No primeiro semestre, o transporte de soja a partir de Porto Velho teve redução de 47% até Itacoatiara e de 44% até Santarém.

Nas estimativas de Adalberto Tokarski, diretor da Antaq, foi preciso recorrer a pelo menos 20 mil caminhões bitrens (com dois semirreboques em uma mesma composição) para dar conta da carga que não pôde ser transportada pelos rios. No total, a queda da movimentação de soja e de milho alcançou cerca de 1,4 milhão de toneladas entre os seis primeiros meses de 2013 e de 2014.

Para Tokarski, a preocupação não se esgota aí: empresas perdem a confiança no modal hidroviário e as operadoras de ferrovias, sem a concorrência das embarcações, podem cobrar mais pelo frete.

Quando se contabilizam não só grãos, mas todo tipo de carga, o recuo foi bem mais leve: apenas 1% no primeiro semestre. Mas esse número tem a influência do aumento do minério de ferro transportado pela Vale na hidrovia do rio Paraguai, a partir de Corumbá (MS), em direção à Argentina – houve alta de 30% na movimentação do produto.