Redação (12/12/2008)- Em mais uma mostra de que os fundamentos continuam em segundo plano na formação dos preços internacionais das commodities agrícolas, as cotações de soja e milho subiram na quinta-feira em Chicago à revelia das novas projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre oferta e demanda de grãos no país e no mundo.
Dos principais produtos agrícolas negociados no mundo, apenas o trigo refletiu diretamente o relatório do USDA e caiu nas bolsas americanas. Isso apesar das perspectivas de aumento da inflação nos EUA e da forte queda do dólar em relação a outras moedas estrangeiras, que impulsionaram as demais commodities, inclusive de outros setores da economia. Com a alta de quinta, o salto do CRB, índice que inclui 19 commodities variadas, chegou a 9,6% na semana.
"Os fundamentos não valem nada", afirmou Renato Sayeg, da Tetras Corretora, em referência à forte influência de movimentações financeiras "estranhas" às commodities depois do recrudescimento da crise financeira global irradiada dos EUA. "Em alguns mercados, os fundamentos estão sendo desprezados integralmente, e o dólar tem sido de fato fundamental". Um dólar fraco teoricamente favorece as exportações americanas. Como as principais bolsas de commodities estão naquele país, o impulso "altista" da queda da moeda sobre as commodities aumentou na crise.
Na quinta-feira essa influência foi flagrante no milho. Os contratos do grão para março, que atualmente ocupam a segunda posição de entrega em Chicago, fecharam a US$ 3,5150 por bushel, alta de 9,50 centavos de dólar. E isso depois que o USDA reduziu sua projeção para a demanda global pelo grão em 7,84 milhões de toneladas nesta safra 2008/09, principalmente pelo menor interesse na produção de etanol de milho nos EUA, e elevou os estoques finais mundiais em 13,71 milhões de toneladas. São ajustes em relação ao relatório de novembro do órgão.
A soja também não encontrou no USDA motivos para alta, mas os papéis para março (segunda posição) subiram 25,75 centavos de dólar e fecharam a US$ 8,6050 por bushel em Chicago. No caso do trigo, finalmente, pesou o pequeno aumento da projeção do USDA para os estoques finais americanos e as cotações registraram queda. Março (segunda posição) perdeu 2 centavos de dólar e fechou a US$ 5,0750 por bushel.