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"Efeito etanol" já turbina o mercado brasileiro de milho

<p>Integrações, que produzem aves e suínos, também já fazem compra antecipada de milho, com intuito de garantir o suprimento, para entrega a partir de julho do ano que vem.</p>

Redação (22/11/06) – O crescimento da demanda internacional por milho, sustentado principalmente pelo avanço da produção de etanol nos Estados Unidos, gerou um quadro nunca antes visto no mercado brasileiro. Pela primeira vez, exportadores como o Grupo André Maggi já fecham contratos para venda, ao mercado externo, de milho que ainda sequer foi plantado e que será colhido apenas no segundo semestre de 2007.

O estímulo para esses negócios é a disparada dos preços internacionais do grão, que já subiram 83,8% em 12 meses – conforme cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição negociados na bolsa de Chicago.

Tradings já exportaram cerca de 500 mil toneladas de milho da safra de verão, que está no campo agora, e outras 400 mil toneladas da safrinha – a segunda safra – para entrega a partir do segundo semestre de 2007, conforme Paulo Molinari, da Safras&Mercado. Houve até exportação de 50 mil toneladas para entrega em janeiro de 2008. No total, as vendas antecipadas já se aproximam de todo o volume exportado em 2005.

“Nunca tínhamos feito compra antecipada de milho nesta época do ano para entrega no segundo semestre do ano seguinte”, diz o responsável pela área de grãos de uma grande integração brasileira. Ele não revela os volumes antecipados, mas afirma que são “expressivos”.

O movimento dos exportadores e da indústria no Brasil reflete um novo quadro no mercado de milho, alavancado pela crescente demanda pelo grão nos Estados Unidos para produção de etanol.

O milho brasileiro para embarque no segundo semestre de 2007 foi negociado entre US$ 150 e US$ 155 por tonelada FOB, segundo fontes da indústria. O valor está cerca de US$ 30 acima de igual período este ano. Já a integração vai pagar pelo milho comprado antecipadamente para entrega a partir de julho de 2007, US$ 120 por tonelada, o equivalente a R$ 16 por saca na indústria no Paraná.

“A questão energética está remodelando o fluxo de comercialização do milho, abrindo espaço para o crescimento da produção e das exportações no Brasil e na Argentina”, afirma Leonardo Sologuren, analista da Céleres.

Molinari, da Safras, observa que os Estados Unidos pretendem quase dobrar a produção de etanol até 2011, dos atuais 4,8 bilhões de galões para até 8,5 bilhões. Para isso, terão de duplicar também a produção de milho para esse fim. A demanda atual de milho dos Estados Unidos para produção de etanol é de 54,6 milhões de toneladas. Chegará a 90 milhões de toneladas em 2011. Acontece que o país responde por cerca de 70% das exportações mundiais de milho – com 56 milhões de toneladas -, mas registra retração nos estoques do grão. Assim, deve ter menos milho disponível para exportação.

“Com os EUA reduzindo o excedente de exportação, abre-se uma lacuna na oferta global de milho”, acrescenta Sologuren. E é aí que entram o Brasil e a Argentina.

Nem o avanço da área de milho nos EUA na próxima safra deve ser suficiente para preencher essa lacuna, pelo menos no curto prazo. A produção de milho do país na atual safra é de 272 milhões de toneladas numa área de 32,1 milhões de hectares. Mantida a atual produtividade, de cerca de 8,5 mil quilos por hectare, numa área de 33,5 milhões, a produção americana ficaria em torno de 302 milhões a 305 milhões de toneladas.

“Mesmo se a produção alcançar esse patamar, haverá queda nos estoques finais de milho dos EUA, que devem ser de 23,8 milhões de toneladas”, afirma Molinari. Nesse cenário, 2007 será um ano “especulativo”, avalia o analista, mas ele não descarta que os EUA consigam elevar sua produtividade nos próximos anos, o que permitiria ao país manter suas exportações.

O especialista considera, ainda, que um possível aumento da produção de milho no Brasil e a Argentina nos próximos anos também poderia “reequilibrar” a oferta, diminuindo a pressão de alta.

Mas o fato é que no curto prazo os custos de produção da indústria brasileira de aves e suínos vai subir por causa dos preços mais altos do milho em função da maior demanda, com reflexos para a inflação já no próximo ano.

“Não se sabe até que ponto será possível priorizar o milho para produção de energia em detrimento da alimentação humana”, pondera uma fonte da indústria. Essa fonte avalia, entretanto, que mesmo com preços mais altos do milho o Brasil continua mais competitivo na produção de carne de frango e suína do que concorrentes que importam o grão.

Apesar de preocupante no curto prazo, a alta dos preços do milho deve favorecer a indústria consumidora no futuro, afirma Sologuren, já que estimula a produção.

Mas só aumentar a produção não basta para o Brasil ampliar suas vendas ao exterior, que neste ano deve ficar em 3,5 milhões e 4 milhões de toneladas. “O Brasil tem de melhorar a produtividade para não ficar dependente do câmbio e da alta dos preços internacionais [para exportar]” , diz. Hoje a produtividade média no país é de 3,5 mil quilos por hectare. São 7,5 mil quilos na Argentina e quase 9 mil nos EUA, lembra o analista.

De qualquer forma, o fato de os exportadores estarem vendendo milho que ainda nem foi plantado – a safrinha é semeada no primeiro semestre e é considerada uma cultura de risco – mostra um amadurecimento do setor, diz Molinari.

O avanço da produção de etanol a partir de milho também chama a atenção para um subproduto do processo – o DDG (do inglês Distillers Dried Grains), dizem analistas e fontes da indústria. Até hoje ele só era usado na ração de bovinos em confinamento, mas já começam a ser realizados testes para utilização em ração de aves e suínos, substituindo o farelo de soja.