A safra 2014/2015 terá condições climáticas melhores para o plantio de grãos nas regiões paulistas e perspectiva de recuperação aos produtores no segundo semestre deste ano, de acordo com o agrometeorologista do Somar Meteorologia, Marco Antônio dos Santos. A antecipação das chuvas, provocada pelo fenômeno El Niño no Sudeste, será responsável pela melhoria na safra paulista de grãos, após perdas que superam 20% da safra anterior, ocasionadas pela estiagem e altas temperaturas no início do ano.
A análise dos prejuízos na safra 2013/2014 é do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
“A Agência Americana Oceânica e Atmosférica já sinaliza mais de 80% de possibilidade de El Niño a partir do mês de agosto. Normalmente o fenômeno iria até o final do verão de 2015, em meados de março, mas teremos um ano atípico. A tendência é que esse El Niño influencie apenas o clima do segundo semestre de 2014. Com isso, a chance de mais uma estiagem como a desse ano não é nula, mas é muito pequena”, diz.
De acordo com Santos, se não tivermos o fenômeno, voltando para a neutralidade, ainda podemos ter falta de chuvas em algum período em São Paulo. Caso se consolide o El Niño, no inicio da primavera deve haver chuvas regulares e uma safra cheia, sem grandes períodos de estiagem e veranicos.
Para o pesquisador do IEA, Alfredo Tsunechiro, São Paulo normalmente sofre efeitos “transicionais” com o El Niño, menos danosos do que para a região Sul, que fica sujeita ao excesso de chuvas, e para o Nordeste, estiagem.
Últimas perdas
Dados do IEA preveem uma colheita de 6,1 milhões de toneladas de grãos no estado para a safra 2013/2014, que teve a produtividade afetada em mais de 20% pelo clima. “Os problemas foram distintos de acordo com a região. Houve quem perdeu 10% e quem quebrou 50% da produção. O que observamos na soja, por exemplo, não foi uma diminuição no número de sacos, mas uma redução de qualidade por grãos mal formados”, explica o chefe do departamento econômico da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), Cláudio Silveira Brisolara.
O especialista conta que quando a indústria recebe uma produção com níveis de qualidade aquém do estabelecido em contrato, ela acaba refugando o produto – deixa de pagar o produtor ou paga menos. Segundo Brisolara, em São Paulo, as perdas foram mais incidentes nos grãos, mas a cana e a laranja também foram afetadas pelo clima seco.
“Nesse ano a estiagem teve maior efeito sobre a produção agrícola, com mais evidências na primeira safra, mas que também refletiu no processo como um todo”, avalia Tsunechiro.
A cultura do milho foi uma das mais prejudicadas. No tipo sequeiro e irrigado, primeira safra, com cerca de 90% da colheita realizada até à época do levantamento do instituto, a produção prevista ficou em 2,43 milhões de toneladas, queda de 30,7% em relação à safra 2012/2013.
Quanto à segunda safra do milho, a ” safrinha”, o levantamento aponta retração de 16% de área plantada, para 277,9 mil hectares ante a safra anterior e queda de 14,4% na produção, que deve registrar 1,22 milhão de toneladas.
“Em nível de Brasil, existe um superávit para o milho, mas o percentual de autossuficiência de São Paulo vai ser menor. Precisaremos de 60% de importação interestadual para abastecer a demanda”, completa o pesquisador.
Segundo Tsunechiro, o milho foi afetado pela junção dos fatores diminuição na área plantada e clima, diferente da soja, que também teve quebra pela seca, mas vinha de um aumento na área.