“A China aposta no mercado interno e deve terminar com as compras internacionais”. A afirmação foi feita pelo jornalista Luís Henrique Vieira, correspondente do Portal Agriculture.com. O repórter, que também é autor do Blog AgroSouth News, esteve na China no mês passado e concedeu entrevista exclusiva ao Agrolink contando detalhes relevantes para as tendências do agronegócio mundial nos próximos meses. Confira:
Agrolink – Porque a China está aumentando sua produção de milho, justamente num tempo de crise da commodity?
Luís Henrique Vieira – Acredito que a crise se dá exatamente por conta do aumento de produção na China. O cultivo de milho é uma grande especialidade chinesa. A produtividade de milho no país (6.200 kg/ha) é inclusive maior que nos Estados Unidos. Por isso, a China aposta no mercado interno e deve terminar com as compras internacionais. No caso da soja, é exatamente o contrário. A produtividade não passa dos 2.100 quilos por hectare e as compras internacionais só crescem.
Agrolink – O que o governo tem feito para fomentar essa cultura?
Luís Henrique Vieira – O governo tem dado subsídio a alguns produtores e tem incentivado a chegada de fornecedores estrangeiros de tecnologia. O governo chinês prevê um êxodo rural de mais de 200 milhões de pessoas nos próximos anos e se preocupa em poder alimentar toda essa população com produção interna majoritariamente. Ao mesmo tempo que essas pessoas que deixam as terras abrem espaço para outros produtores ganharem escala, as indústria também vão tomando as áreas rurais. O desafio é muito grande. Hoje, o produtor chinês, na média, possui um hectare.
Agrolink – Como e porque a China está avançando no cultivo de orgânicos?
Luís Henrique Vieira – Porque os casos de intoxicação alimentar são cada vez mais frequentes. Se diz que é pelo excesso de usos de defensivos. Há inclusive muitos casos de mortes. O dado que me foi passado é que os produtos orgânicos são cerca de quatro vezes mais caros e a demanda só cresce. O chinês está disposto a pagar.
Agrolink – Qual é a situação da fiscalização, tanto sobre sementes quanto sobre agroquímicos na China?
Luís Henrique Vieira – A questão da pirataria é um assunto distante de ser resolvido na China. A assinatura de tratados internacionais sobre o tema é relativamente recente. Nas maiores cidades, se diz que diminuiu muito a compra de eletrônicos falsos. A indústria de agroquímicos e sementes tenta convencer os produtores dos riscos da pirataria, mas a identificação é difícil. A Basf que investiu em um dispositivo tecnológico que identifica se os seus produtos são originais.
É comum a prisão de chineses pegos por autoridades americanas em laboratórios e campos de experimentação de multinacionais tentando roubar segredos comerciais. É difícil falar muito porque não existem estimativas oficiais publicadas sobre o assunto na China. As empresas que não possuem registro na China estão sob risco maior porque de acordo com a legislação do país não possuem direitos autorais. Algumas franquias comerciais conhecidas no mundo como o Outback tiveram a marca roubada.