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Espaço para milho brasileiro no exterior

<p>Só do ano passado para cá, a demanda pelo insumo nos EUA cresceu 50%, para 54 milhões de toneladas.</p>

Redação (07/07/06)- O aumento do número de destilarias para produção de etanol nos Estados Unidos – decorrente do maior consumo do combustível – eleva a demanda por milho no país e deve abrir espaço para o Brasil ampliar as exportações do grão no médio a longo prazo, o que hoje depende principalmente de um câmbio favorável para ocorrer.

A demanda anual por etanol nos EUA para 2006 é estimada em 22,150 bilhões de litros, segundo a consultoria Datagro, mas a perspectiva do mercado é de que alcance 30 bilhões em quatro anos. O país produz atualmente 19,150 bilhões de litros de álcool à base de milho, mas terá de ampliar esse volume e para isso consumirá mais grão.

Só do ano passado para cá, a demanda por milho para produção de etanol nos EUA cresceu 50%, para 54 milhões de toneladas, conforme dados da Associação Nacional dos Produtores de Milho dos EUA, citados por Leonardo Sologuren, analista da Céleres.

A estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para 2010 é de que o consumo de milho para produção de álcool será de 66 milhões de toneladas. Mas diante do avanço do último ano, reflexo da alta dos preços do petróleo no mercado internacional e da busca por combustíveis renováveis alternativos nos EUA, a previsão do USDA é conservadora, avalia Sologuren.

Para o analista, se a demanda continuar crescendo no mesmo ritmo e a produção americana ficar na casa dos 270 milhões de toneladas, os Estados Unidos terão de reduzir suas exportações de milho – hoje estimadas em 54,6 milhões de toneladas – para atender à maior demanda doméstica. “Os EUA respondem por 70% das exportações mundiais de milho. Com a maior procura por causa do etanol, haverá um buraco na oferta”, afirma Sologuren.

André Pessôa, da Agroconsult, observa que a maior produção de etanol nos EUA desloca milho que seria destinado a outros fins, como para produção de açúcar para consumo industrial e para fabricação de ração animal. Ele concorda que esse quadro pode ampliar as oportunidades para o Brasil exportar milho, já que os EUA devem ter dificuldade de atender a demanda de seus importadores do grão. Segundo Pessôa, outro fator que pode favorecer o Brasil é que a Argentina – um grande exportador de milho – está ampliando a produção de soja em detrimento do cereral. Além disso, a China também está reduzindo as vendas externas devido à maior demanda interna.

Com o consumo maior do grão para fabricação de etanol, a demanda doméstica total estimada nos EUA para a safra 2006/07 é de 241,183 milhões de toneladas ante 228,230 milhões em 2005/06. O USDA estima que chegará a 251 milhões de toneladas em quatro anos.

Na hipótese de a produção americana de milho ficar na faixa das 270 milhões de toneladas e o consumo doméstico atingir 251 milhões, haveria menos grão disponível para exportação, diz Leonardo Sologuren. “Os EUA terão de aumentar a área plantada e ampliar produtividade”, acrescenta.

Aumentar o plantio de milho é uma tarefa difícil nos EUA, onde não há mais áreas de fronteira. Mas existe espaço para a produção de milho crescer por meio da ocupação de áreas hoje destinadas a outras culturas ou do aumento da produtividade, pondera Paulo Molinari, da Safras&Mercado. Assim, ele avalia que os EUA têm capacidade de atender seus clientes mesmo com a maior demanda doméstica por milho por causa do álcool. Para isso, no entanto, “vão ter de manter os investimentos em tecnologia para ter produção de 300 milhões de toneladas nos próximos anos ou avançar para áreas de soja”, diz o especialista.

Na opinião do analista, se não houver problemas climáticos nos próximos anos, os EUA poderão manter os volumes de exportação. Uma quebra, no entanto, pode fazer os preços do milho “explodirem no mercado internacional” , acredita. E num cenário assim as exportações americanas certamente seriam comprometidas, abrindo caminho para o milho do Brasil. Para atender a essa possível demanda, também será necessário investir em ganhos de produtividade em infra-estrutura por aqui, alerta Molinari.

De qualquer forma, reconhece Molinari, o crescimento da demanda por etanol é um “fato novo” que criou um “link” entre os preços do milho na bolsa de Chicago e os mercados de energia.

Só isso explica o comportamento dos preços futuros do milho hoje em Chicago. “Com os estoques atuais, o bushel deveria estar abaixo de US$ 2,00”, observa Molinari. Ontem, porém, o contrato de setembro subiu 5,5 centavos de dólar e fechou a US$ 2,55 por bushel. A indicação da bolsa para setembro de 2007 é US$ 3,03 por bushel.

Sologuren afirma que as indústrias que processam o milho para fazer álcool só têm conseguido pagar os preços elevados porque a alta do petróleo acaba puxando as cotações do etanol. E Pessôa acrescenta que a produção de etanol “só funciona” nos EUA devido aos subsídios à produção de milho e também a subsídios indiretos, como a taxa de US$ 0,56 por galão que incide sobre o etanol importado. Tarifa esta que dificulta as exportações do etanol brasileiro, que tem custo de produção 30% inferior ao álcool de milho, segundo a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica).

André Pessôa acredita que o Brasil pode ser beneficiado por esse novo cenário no mercado internacional de milho em um ou dois anos. Para Sologuren, isso deve ocorrer no médio a longo prazo e fará o Brasil depender menos de momentos de câmbio favorável para exportar o produto. Ele vê como mercado potencial para o milho do Brasil a Ásia, uma região que recebe grandes volumes de produto dos EUA.

O ano em que o Brasil mais exportou milho até hoje foi 2001, estimulado por preços internos baixos e dólar mais valorizado. Naquele período, os embarques 5,6 milhões de toneladas. Este ano, segundo analistas, deve ficar na casa das 2 milhões de toneladas. Até o primeiro semestre, foram 1,2 milhão de toneladas.

Renda agrícola das lavouras em queda
O Ministério da Agricultura reduziu em 0,4% sua previsão para a renda agrícola (“da porteira para dentro”) das 20 principais lavouras do país em 2006. A nova projeção, deflacionada pelo IGP-DI da FGV de junho, aponta para receita de R$ 99,243 bilhões, ante os R$ 99,642 bilhões previstos para o ano em maio e os R$ 111,050 bilhões apurados em 2005. Se confirmado, será o menor patamar desde 2002.

No levantamento preparado por José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do ministério, a renda das lavouras de soja cai 9% em relação ao ano passado, para R$ 22,807 bilhões. Entre os destaques positivos está a cana, cuja receita cresce 17,5%, para R$ 15,947 bilhões.