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Estiagem no Sul ameaça lideranças da soja no país

Estiagem no Sul ameaça lideranças da soja na colheita de grãos e no valor bruto da produção agrícola do país.

Estiagem no Sul ameaça lideranças da soja no país

Além de estar a um passo de perder a liderança na colheita brasileira de grãos para o milho, o que não acontece há mais de uma década, a soja também poderá perder em 2012, depois de 21 anos, a posição de cultura agrícola com maior valor bruto da produção (VBP) do país, neste caso para a cana-de-açúcar.

Segundo estimativas divulgadas pelo Ministério da Agricultura, o VBP da soja deverá alcançar R$ 46,1 bilhões este ano, 15% abaixo de 2011 e o menor montante desde 2007. Já o da cana deverá subir 20% em igual comparação, para R$ 46,8 bilhões, o que seria um novo recorde. O VBP mede resultados esperados “da porteira para dentro” e não inclui ganhos agregados ao longo da cadeia.

Se confirmadas as projeções da equipe liderada por José Garcia Gasques, coordenador de Planejamento Estratégico do ministério, a participação da soja no VBP das 20 principais culturas agrícolas do país cairá para 21,1% em 2012, ante 25,4% em 2011 e 30,1% em 2003, quando a commodity obteve seu melhor resultado (R$ 52,8 bilhões). Todos os valores estão deflacionados pelo IGP-DI da FGV de março passado.

Esse forte recuo da soja, porém, é conjuntural e não representa uma tendência. Pelo contrário: se o aumento de 3,4% estimado pela Conab para a área plantada do grão nesta safra 2011/12 fosse traduzido em avanço similar da colheita, não haveria novidades no ranking.

Mas o fenômeno La Niña arreganhou os dentes, provocou forte estiagem no Sul da América do Sul e, no Brasil, terminou por prejudicar mais a soja do que o milho. Puxada por Mato Grosso, a colheita nacional da oleaginosa deverá resultar em 65,6 milhões de toneladas, 12,9% menos que em 2010/11, conforme estimativa da Conab divulgada na terça-feira passada.

Também afetado pelo La Niña no verão, mas com projeções de forte incremento do plantio na segunda safra, que será liderada por Mato Grosso e Paraná, o milho poderá chegar a 65,1 milhões de toneladas, 13,5% mais que no ciclo anterior, novamente de acordo com a Conab.

Mas essa diferença que mantém a soja no topo poderá ruir se a previsão do governo do Rio Grande do Sul para a colheita do grão no Estado, o mais prejudicado pela seca, prevalecer. Nas contas gaúchas, divulgadas ontem, serão 5,9 milhões de toneladas; nas da Conab, 6,5 milhões.

Daí o tombo do valor bruto da produção da oleaginosa, que poderia ser até maior caso as cotações internacionais não tivessem sido impulsionadas nos últimos meses justamente pela seca no Brasil – e também na Argentina e no Paraguai – e pela robusta demanda da China, que comprou 4,3 milhões de toneladas de soja em grão brasileira no primeiro trimestre. Com mais uma forte alta ontem, os contratos de segunda posição de entrega acumulam alta de 20% na bolsa de Chicago em 2012, de acordo com o Valor Data.

Se mesmo com o incremento da colheita o milho não terá fôlego para superar a soja em VBP, a cana poderá aproveitar o espaço para assumir a ponta. Desde que as projeções para a produção nos canaviais, que já enfrentam adversidades no Centro-Sul, de fato se confirmem. Em 1991, último ano em que o VBP não foi liderado pela soja, a cana ficou com a coroa, com R$ 14,9 bilhões.

A pujança da cana em São Paulo fortalecerá a região Sudeste do país como a mais importante no ranking do VBP em 2012, enquanto a derrocada da soja tirará do Sul a segunda posição, que será ocupada pela região Centro-Oeste, onde o clima foi mais camarada.