Mato Grosso poderá encerrar o ano com estoque de passagem recorde de milho, caso a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não realize novos leilões este ano. Excesso de produtos de uma safra para outra, pressionam preços para baixo e reduzem o entusiasmo dos produtores pela cultura. Especialmente em Mato Grosso, a abundância do milho indica problemas a curto prazo para estocar a soja que começa a ser colhida em grande volume a partir da segunda quinzena de janeiro.
Segundo levantamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), os produtores deverão virar o ano com 1,85 milhão de toneladas de milho, sendo 1 milhão da safra 08/09 e 850 mil toneladas da anterior.
Na última terça-feira, a Conab promoveu mais um leilão do Prêmio Escoamento do Produto (PEP) ao milho – 300 mil toneladas só de Mato Grosso – e a informação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é de que foi o último do ano.
“Se for mesmo o último, vamos fechar 2009 com um estoque bastante elevado”, alertou ontem o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Carlos Fávaro.
Na avaliação do presidente da entidade, Glauber Silveira, a conseqüência mais grave será a falta de espaço para o armazenamento da soja que começa a ser colhida a partir da segunda quinzena de janeiro do próximo ano. “Precisamos vender o que temos ainda disponível nas mãos dos produtores – cerca de 1 milhão de toneladas – para abrirmos espaço para a soja. O governo federal precisa fazer a remoção imediata do que já foi comercializado e deixar o produtor mais tranqüilo para a próxima safra”, frisou.
Na opinião do diretor da Aprosoja, estoque elevado não é bom porque reduz preços e inibe o produtor de plantar diretamente. “Se houver grande excedente, poderá haver recuo da área plantada porque os preços estarão mais baixos. O produtor deve ter cautela e, por mais que faça reserva de sementes, só deve plantar mesmo, após fazer contas e avaliar os estoques”.
Segundo Carlos Fávaro, o preço mínimo atualmente em vigor para o milho (R$ 13,20) cobre os custos, estimados em cerca de R$ 12, e garante uma margem de R$ 1,20 por saca.
“Os leilões são importantes para garantir os preços mínimos e evitar que o produto seja desvalorizado no mercado, sem remunerar os custos e garantir alguma margem ao produtor”.
A Conab informou que este ano foram realizados 19 leilões de milho, totalizando uma oferta de 3,850 milhões de toneladas e volume arrematado de 3,680 mil toneladas.
Os estudos apontam, entretanto, que os preços mercado vigentes no mercado mato-grossense ficam longe de cobrir os custos. O melhor preço está sendo adotado na região de Rondonópolis (210 quilômetros ao sul de Cuiabá), R$ 10,50/saca, enquanto que a pior cotação está sendo verificada em Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá), R$ 8.
Aprosoja/MT pede mais dois leilões
A Aprosoja/MT defende a realização de pelo menos mais dois leilões para zerar o estoque de milho do Estado e as adequações necessárias para garantir o cumprimento do pagamento do preço mínimo ao produtor, que é de R$ 13,20.
Segundo Fávaro, a Aprosoja/MT está alocando mais recursos junto ao Mapa, Ministério da Fazenda e Conab para realizar novos leilões.
“Acredito que mais dois leilões resolvem o problema de Mato Grosso. Todos os produtores têm que ter essa oportunidade de vender sua produção pelo preço mínimo, por meio dos leilões de PEP”, frisou.
De acordo com a Conab, os prazos para o início da remoção dos produtos dos armazéns começam no próximo mês de novembro e se encerram no dia 15 de março do próximo ano.
Segundo o gerente de Operações da Superintendência da Conab, em Mato Grosso, Charles Nicolau, todo o estoque comprado pela Companhia está depositado nos armazéns. O estoque estratégico do governo – utilizado para regular os preços do mercado – é estimado em 2,8 milhões de toneladas.