Redação (16/12/2008)- No campo brasileiro mais uma vez o tiro saiu pela culatra. O produtor vislumbrou excelentes perspectivas para o mercado do milho, com o crescimento do consumo nos países em desenvolvimento e redução nas exportações dos Estados Unidos em decorrência da produção de etanol a partir do grão.
Para aproveitar essa provável janela do mercado, plantou mais que de constume e produziu mais uma super-safra. A área foi aumentada em 4,4%, passando de 13,81 milhões de hectares para 14,42milhões, e a produção cresceu ainda mais (13,3%), subindo de 51,83 milhões em 2007 para 58,73 milhões na última colheita.
Cenário
O cenário presumido, entretanto, não se confirmou. Os Estados Unidos não restringiu suas exportações tanto quanto se esperava, a Argentina voltou a ofertar o grão no mercado mundial, a Europa produziu razoavelmente bem, reduzindo sua demanda externa, e os países emergentes, atemorizados pela crise financeira internacional, foram parcimoniosos em suas importações.
Com uma produção de 58,73 milhões de toneladas, para uma consumo estimado de 44 milhões de toneladas, a expectativa era de que o País colocasse pelo menos 10 milhões de toneladas no mercado externo, para reduzir seus estoques de passagem a dimensões mais confortáveis.
De acordo com dados de Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os preços do milho continuaram em queda no mercado interno, apesar da elevação da paridade de exportação. A instituição atribui o fato aos elevados estoques de passagem gerados pelo fraco desempenho das exportações
Segundo o Cepea, os embarques brasileiros de milho somaram 398,9 mil toneladas em outubro, o que representa 78% a menos que no mesmo mês do ano passado. De janeiro a outubro foram exportadas 4,3 milhões de toneladas do grão, contra 8,7 milhões de toneladas no mesmo período de 2007.
Produtor
O presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), Alécio Maróstica, diz que o produtor está assustado com esse estoque de passagem de mais de 13 milhões de toneladas de milho, o maior da história do País. “A situação é mais desconfortável ainda, porque daqui a alguns dias começa a chegar ao mercado o milho irrigado, diz Alécio Maróstica.
O dirigente da Faeg admique o País não tem onde colocar tanto milho se não conseguir incrementar rapidamente as vendas ao exterior.
“A continuar no ritmo atual, não chegaramos a exportar 5 milhões de toneladas esse ano, contra quase 9 milhões de toneladas no ano passado”, diz ele.
Alécio Maróstica diz que as recentes ações do governo com leilões de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) aliviam um pouco a pressão de baixa dos preços do milho no Centro-Oeste, mas não resolvem o problema. “Talvez fosse o caso de o governo adquirir um pouco do produto para enxugar o mercado e dar um pouco mais de liquidez ao milho”, diz Alécio Maróstica.
Segundo ele, com o aperto do crédito, as granjas e outros grandes consumidores não estão estocando o produto, preferindo adquirir no mercado físicio apenas o suficiente para alguns dias.