Cooperativas e produtores rurais do Noroeste do estado estão precisando adotar estratégias de emergência para estocar a produção proveniente da melhor safra de soja da história da região. Os armazéns estão cheios e a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) já alerta para o agravamento do quadro, visto que a colheita do milho safrinha se aproxima com expectativa de alta produtividade.
A Cocamar, segunda maior cooperativa do estado, precisou utilizar espaços alternativos para ampliar sua capacidade de estocagem. Os silos da empresa armazenam até 600 mil toneladas de grãos, mesmo assim, outras 50 mil toneladas de soja precisaram ser alocadas em outros espaços, explica o superintendente comercial da Cocamar, José Cícero Aderaldo.
“O quadro é de dificuldade, pois os preços caíram e o produtor reduziu as vendas. Temos um volume maior estocado, inclusive em armazéns de fundo plano, que não adequados para soja a granel”. Diferente dos silos, que tem fundo em formato de cone para facilitar a retirada, os armazéns de fundo plano servem para estoque de grãos ensacados, como café e fertilizantes.
A indústria de gêneros alimentícios da empresa consegue processar até 90 mil toneladas por mês, mas para isso é preciso que os produtores vendam a soja para Cocamar, e essa também não tem sido a opção mais recorrente. O preço pago pelo grão é baixo e, assim, o produtor prefere guardar a safra e esperar a melhora do mercado.
A Cargill, que compra soja para produção de alimentos em sua fábrica de Ponta Grossa, iniciou armazenamento nos chamados Silos Bags como forma de garantir matéria-prima. Essa modalidade de estocagem custa bem menos que um silo comercial e a estrutura de lona plástica pode ser armada rapidamente. Os bags não são descartáveis e cada um guarda 180 toneladas, em média. Cargill e Cocamar também informaram que precisaram arrendar armazéns com essa finalidade.
Venda ao governo não libera espaço
Para o superintendente comercial da Cocamar, José Cícero Aderaldo, a compra da produção pelo governo, pelo preço mínimo estipulado, não resolve o problema. Os grãos são levados para armazéns públicos ou o dono do silo recebe para guardar e conservar a safra. “Nosso receio é que o governo não de condições de escoamento e que venha comprar do produtor. É necessário estímulos e programas de escoamento por meio de exportação.”.
O produtor Osmar Benedito do Oliveira compartilha da opinião e fala sobre os problemas estruturais para escoamento e estocagem da safra. “Não adianta aumentar a produção se temos gargalos no frete, na armazenagem e no porto. Tudo isso aumenta o custo da produção.”
Alta produtividade e baixos preços
A safra de soja nas regiões Noroeste e Norte do Paraná foi a melhor da história, mas o valor pago aos agricultores não vai permitir lucro à altura da boa produtividade. Enquanto a produção por hectare aumentou 118% na região, o valor do saco de 60 quilos diminui 35%, entre as safras de 2009 e 2010. A derrubada do valor foi intensificada pelos grandes estoques mundiais do grão, que tem o preço definido em nível internacional.
A produtividade em 2009 foi de 1,4 mil quilos por hectare na área da Cocamar. Neste ano, o índice subiu para 3 mil quilos por hectare, registrando o melhor desempenho da história. Contudo, o preço médio, que no ano passado era de R$ 45 por saco, está agora em R$ 29,50 – este foi o valor registrado em Maringá na sexta-feira (9). Apenas entre janeiro e abril, o saco de soja perdeu R$ 10 de valor.
Segundo estimativa da Seab, se os preços registrados em janeiro fossem mantidos, a safra de soja injetaria R$ 475 milhões no mercado regional. Com os preços atuais, essa estimativa cai para R$ 330 milhões. Para se ter uma ideia, mesmo com a baixa produção em 2009, R$ 296 milhões entraram em circulação no ano passado.