Redação (04/08/2008)- Apesar dos fortes recuos da cotação da soja na Bolsa de Chicago (CBOT), os preços da oleaginosa no mercado interno estão se sustentando com quedas menores. Nos últimos 30 dias, o valor da soja na bolsa americana recuou 14%, enquanto que em algumas regiões do Brasil essa queda acumulada foi próxima dos 7%. Em outras, com expressiva presença de agroindústrias, como Chapecó (SC), o recuo foi de apenas 4%. A demanda interna e externa aquecida, aliada ao fato de a safra do grão este ano ter entrado muito vendida antecipadamente, explicam os preços sustentados. "Os estoques de soja disponíveis para venda estão baixos. Além disso, esse preço menor retrai a venda por parte dos que ainda têm o grão disponível. Quem quer comprar tem que oferecer mais", explica Paulo Baraldi, da Soma Corretora.
Segundo levantamento da consultoria Céleres, em 25 de julho 86% da safra 2007/08 já tinha sido comercializada, ante 78% da média dos últimos 5 anos. Isso significa que há, teoricamente, disponível para venda 8 milhões de toneladas no País, volume que poderia ser de 14 milhões de toneladas se a venda tivesse sido dentro da média de 78%. Assim, segundo Baraldi, o que está sendo movimentado hoje no mercado é soja já contratada anteriormente.
Em Cascavel (PR), a saca de soja caiu do patamar de R$ 52,50 em 1 de julho para R$ 47 no dia 31, recuo de 10%.
Mas, a menor oferta do produto fez o mercado oferecer mais pela saca já na última semana. Segundo levantamento da Céleres, nos últimos sete dias o preço subiu 2,4% na média das 13 regiões produtoras pesquisadas. "Desde o dia 24, a região de Cascavel foi a que teve maior valorização da soja: 6,8%", acrescenta Leonardo Menezes, analista da Céleres.
A previsão da consultoria para esta safra é de que os estoques finais no Brasil sejam de 1,1 milhão de toneladas, 20% menor do que os quase 1,4 milhão registrados no ciclo anterior. As exportações devem crescer 7% para 25,4 milhões de toneladas. A demanda total, incluindo o mercado interno, deve crescer para 60 milhões de toneladas, 4,3% mas que as 57,5 milhões de toneladas do ciclo anterior. Até junho, o Brasil já havia exportado cerca de 1 milhão de toneladas a mais de soja em grão que em igual semestre de 2007. Foram 13,76 milhões de toneladas, ante as 12,7 milhões de janeiro a junho de 2007, aumento de 7,9%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Segundo Richard Thomas, da área de operações da agência marítima Fertimport, para esta primeira quinzena de agosto estão nomeados 3 navios para embarque de soja no porto de Santos (SP) e outros dois estão indicados para a segunda quinzena, no entanto, ainda sem confirmação. "Trata-se de um movimento normal", avalia Thomas.
Prêmios
Por conta dessa demanda aquecida pela soja brasileira, os prêmios estão mais fortalecidos nos portos. Em 3 de julho, o porto de Paranaguá indicava desconto de 15 pontos (15 centavos de dólar por bushel) para soja, valor que em 31 de julho estava positivo em 40 pontos. "Daqui para frente é entressafra, e a tendência é que os prêmios fiquem fortalecidos", diz Gonzalo Terracini, consultor de gerenciamento de risco da FCStone.
Na última sexta-feira, as cotações da soja na Bolsa de Chicago voltaram a recuar com notícias de bom clima nas lavouras dos Estados Unidos. O contrato com vencimento em setembro encerrou o pregão em US$ 13,5550, queda de 2,77% sobre o pregão do dia anterior. Na semana, a commodity acumula queda de 2,9%. Para Terracini, o mercado deve ajustar essas cotações a níveis mais elevados que os atuais, umas vez que os estoques mundiais ainda estão muito baixos, mesmo com uma provável safra americana de boa produtividade. "O mercado terá que reajustar cotações para estimular o cultivo no Brasil que, a esses preços atuais, não está muito viável. Não fecha a conta, principalmente na região Centro-Oeste, que tem pior logística", avalia Terracini.