Redação (11/08/2008)- O Estado de Tocantins entrou no mapa dos investimentos estrangeiros em soja. O Projeto Paraíso, formado pelo produtor Moacir Almeida e investidores de Chicago (EUA), fará um aporte de R$ 193 milhões para plantar grãos no Estado. A área plantada já na safra 2008/09 será de 80 mil hectares, boa parte deles concentrada nos pólos de Silvanópolis e Porto Nacional. O plantio será elevado gradativamente até estabilizar-se nos 130 mil hectares previstos para a safra 2010/11.
Almeida entrou no projeto por meio da Primavera Importação e Exportação de Cereais, empresa criada em 1994. O grupo de investidores americanos reuniu-se sob a Animo International, criada para explorar oportunidades de investimento em commodities agrícolas, segundo o produtor brasileiro. O contrato entre as partes terá duração de dez anos.
O projeto não limitará a atuação a áreas próprias, diz Almeida. "Metade do plantio será em área própria e metade em forma de parceria com produtores de todo o Estado", disse. A produção, voltada ao mercado externo, será escoada pelo porto de Itaqui (MA).
Segundo Roberto Sahium, secretário de Agricultura de Tocantins, vários investidores estrangeiros têm sondado as regiões agrícolas do Estado. A Federação da Agricultura do Estado de Tocantins (Faet) também atesta o Projeto Paraíso como o primeiro com participação de estrangeiros para produção no Estado.
Além de terras disponíveis, a infra-estrutura logística favorece os investimentos na região. "Houve muita sondagem, mas somente agora os investimentos começam a ser feitos", disse Sahium.
Como a revisão na lei que regulamenta a compra de terras para capital estrangeiro ainda não saiu, as compras financiadas por grupos internacionais estão fortemente aquecidas. Esses investidores estrangeiros associam-se a produtores locais, que na prática são os proprietários das terras. "Os estrangeiros financiam os investimentos", afirmou uma fonte ouvida pelo Valor.
É o modelo adotado pelo Projeto Paraíso. Segundo Moacir Almeida, a Animo International não comprará terras no Estado. "Todo o investimento que eles farão será por meio da Primavera", disse.
O governo federal busca formas de limitar a entrada de estrangeiros em terras do país. Atualmente, as compras são permitidas a pessoas físicas de outra nacionalidade residentes no país e a pessoas jurídicas estrangeiras autorizadas a atuar no Brasil. Parecer da Advocacia Geral da União (AGU) permite que empresas brasileiras controladas por capital estrangeiro comprem imóveis rurais.
Tocantins, que faz parte da nova fronteira agrícola batizada de "Mapito" (Maranhão, Tocantins e Piauí), também tem recebido pesados investimentos em logística. Segundo o secretário Roberto Sahium, a ferrovia Norte-Sul já tem trechos para expansão em licitação no Estado. Assim como o Projeto Paraíso, que escoará a produção agrícola pelo porto de Itaqui, a Bunge deverá fazer o mesmo, afirma o secretário.
Por conta da demanda aquecida, as terras das regiões produtoras de soja do Estado têm se valorizado. Na região de Silvanópolis e Porto Nacional, o hectare custa R$ 3.500, com uma valorização de mais de 50% nos últimos meses. Levantamento da AgraFNP mostra que os preços da terra no Estado subiram 85% nos últimos 36 meses. O preço médio do hectare para área agrícola no Estado está em R$ 3.750.
"Essas regiões tradicionais de soja no Estado têm um regime natural de chuvas, sem precisar de investimentos em irrigação", diz Jacqueline Bierhals, especialista em terras da AgraFNP. Na região de Pedro Afonso, tradicional na produção de grãos, o hectare da área agrícola sai por R$ 4.000 e, em área fechada, por R$ 2.800. No município, a Bunge já começou a plantar cana.
Tocantins faz parte da Amazônia Legal, mas as regiões produtoras de soja do Estado estão inseridas no Bioma Cerrado, onde o plantio agrícola é permitido, desde que uma parte das terras seja preservada. Nesses locais, 65% da área pode ser destinada ao plantio e os outros 35% têm que ser de reserva, explicou Jacqueline Bierhals. Apenas 9% do território de Tocantins está no Bioma Amazônia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).