O grupo Rhodia está analisando ativos no setor sucroalcooleiro para investimentos na produção de etanol, com o objetivo de utilizar o álcool como matéria-prima na produção de solventes químicos. A empresa também está fortemente interessada na energia gerada a partir do bagaço da cana. O presidente da Rhodia para América Latina, Marcos De Marchi, confirmou ao Valor o interesse da companhia na produção de etanol.
“Ainda não definimos como será o formato desse negócio. Estamos analisando. Somos um dos maiores compradores de álcool do Brasil para fins industriais”, disse o executivo. A empresa compra por ano cerca de 140 milhões de litros de etanol, de várias usinas do país, voltado para aplicações na indústria química.
O Valor antecipou que a empresa já analisou e tem interesse nos ativos da Equipav, com duas usinas em São Paulo. A multinacional tem um leque de cerca de 10 usinas que já estariam no seu radar para análise, segundo uma fonte familiarizada com o assunto. O grupo chegou a olhar os projetos da Brenco, que optou por unir suas operações com a ETH Bioenergia, do grupo de Odebrecht. A multinacional também entrou em contato com o grupo paulista Bertolo, com unidade em São Paulo.
A produção de açúcar não interessa à companhia francesa. A empresa quer focar em negócios voltados para sustentabilidade, segundo informou uma outra fonte. “A empresa estuda a possibilidade de ter um sócio”, afirmou essa mesma fonte.
Atualmente, a Rhodia tem contratos fechados de longo prazo com usinas para a compra de álcool destinado a garantir o seu abastecimento, afirmou De Marchi. A empresa utiliza a matéria-prima para a produção de ácido acético e acetato de etila.
Fontes afirmam que a empresa também tem interesse em fazer pesquisas com bagaço para desenvolvimento de novos produtos para indústria química.
A companhia francesa, que está no Brasil há 90 anos, compra etanol desde 1942 no país. Àquela época, o grupo comprava o produto de usinas instaladas no Nordeste e o mesmo descia por cabotagem até São Paulo. A partir da 2ª Guerra Mundial, a cabotagem tornou-se ser inviável e o grupo passou a procurar alternativas no próprio Estado de São Paulo.
A empresa começou a produzir seu próprio álcool, mas a partir dos anos 60 desistiu dessa empreitada por não ser o “core business” da companhia. Agora, o álcool voltado para indústria química deverá fazer parte dos negócios do grupo novamente.
A produção de álcool destinado às indústrias químicas no Brasil hoje gira em torno de 1 bilhão de litros por safra – o que representa 4% da produção nacional de etanol. Do total de 1 bilhão de litros voltado para esse segmento, uma parte também é utilizada pelas indústrias farmacêuticas para a produção de remédios e perfumes.
Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), a rota do eteno renovável (com o álcool como matéria-prima em substituição à nafta) deverá ter maior crescimento nos próximos anos, com potencial de produção em torno de 3 bilhões de litros por safra. “Atualmente a Rhodia e a Oxiteno (que pertence ao grupo Ultra) são os principais compradores da indústria química”, afirmou. Boa parte dessa indústria aposta no etanol como alternativa à matéria-prima fóssil e também porque o produto tem apelo sustentável.