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Fim da gangorra no mercado de milho depende das exportações

Como em todos os anos de grande produção, o preço do milho está recuando de maneira expressiva nas principais regiões de comercialização do país.

Da Redação 12/06/2003 – Como em todos os anos de grande produção, o preço do milho está recuando de maneira expressiva nas principais regiões de comercialização do país. No oeste do Paraná, a queda acumulada no ano é de quase 29%, segundo o Cepea/Esalq. O recuo já acende a luz amarela para a próxima safra.

Há o temor de que a recente desvalorização dos preços desestimule o produtor a plantar, reduzindo a área semeada com milho em 2003/04. Nem a exportação – que se imaginava, poderia sustentar os preços – está evitando o recuo das cotações porque o dólar perdeu valor ante o real.

A expectativa de uma produção recorde de milho é outro fator que derruba o mercado, já que os consumidores estão pouco agressivos nas compras, apostando em preços menores. Reforça o quadro o fato de parte dos produtores ter segurado a oferta de milho, uma vez que até março, não se imaginava um momento tão favorável à produção do grão. Segundo fontes de cooperativas do Paraná, produtores apostaram em alta e não venderam o milho quando o produto estava ao redor de R$ 22,00 a saca em fevereiro. Agora, está em R$ 15,00.

O comportamento do mercado de milho gera reações inusitadas. “Só uma geada salva esse mercado”, comentou um operador, referindo-se às condições surpreendentes da safrinha paranaense. Mas há quem discorde.

No curto prazo, o mercado deve continuar sendo dominado por fatores conjunturais. Contudo, no médio prazo, o que “salvará” o milho das gangorras na produção e da volatilidade dos preços são as exportações, concordam analistas. Isso depende, no entanto, de mudanças estruturais, que já começaram a ocorrer, mas ainda são incipientes.

A pesquisadora Vânia Guimarães, do Cepea/USP, observa que o efeito gangorra era ainda mais visível até pouco tempo, quando não havia perspectiva de vender milho no mercado internacional. “Ainda somos incipientes como exportadores de milho”. Para avançar, defende, o Brasil precisa ampliar a produção de milho. O crescimento da produção esbarra, no entanto, na maior liquidez do mercado de soja, o que estimula o plantio da oleaginosa. Atualmente, por exemplo, o preço de uma saca de soja equivale à cotação de 2,3 sacas de milho, pelos cálculos de Roberto Petrauskas, da Coamo – Cooperativa Agropecuária Mourãoense.

Um analista da indústria observa que a relação entre os preços de milho e soja é parecida nos Estados Unidos. No entanto, o plantio do primeiro segue estável. O motivo, explica, é a alta produtividade das lavouras de milho nos EUA. Enquanto o Brasil produz menos de 4 mil quilos por hectare, em média, os americanos têm rendimento de 8,9 mil quilos por hectare. “Com produtividade maior, o milho fica competitivo”, afirma. Vânia Guimarães pondera, entretanto, que a produção de milho é alta nos EUA, em grande medida, devido aos subsídios oficiais, que garantem um preço mínimo ao produtor. Mas a produção elevada também está relacionada ao investimento em tecnologia.

Algo que vem se intensificando no Brasil por conta da profissionalização da produção de milho. Hoje, grande parte dos produtores de soja do Sul também planta milho e no Centro-Oeste, os produtores plantam soja no verão e milho na safrinha, afirma Daniel Baptistella, da Agroconsult.

O avanço do milho no mercado externo também estimularia operações de venda antecipada no front doméstico, diz o analista da indústria. A explicação: com os preços do milho mais atrelados ao mercado internacional, indústrias poderiam fazer hedge em Chicago, como já ocorre com a soja.